Um livro encanto de lua.
Em meio aos versos, um convite para encontrar alguém. E o encontro com os poemas mais esconde que revela, ao passo em que se entrega o c(éu) da escritora. A pena enluarada lamenta e ama. Uma poesia dos desencontros, ora com o espelho, ora com o estranho, talvez na mesma alma apenada de sonho. E é imensa a cadente sensibilidade da autora, cujo sereno envolve de luzes estelares, enquanto anoitece de desejos cálidos a fantasia de seus leitores.
Sua poesia parece resgatar o mito grego de Selene, conhecida pelos antigos como a personificação da própria Lua. Carrega sobre seus cabelos uma auréola no formato de lua crescente, e é a responsável por transformar o céu a cada nova fase lunar. Ainda que seja iluminada pelo Astro-mor, não é frágil, não é simples, posto que o brilho revelado em suas linhas clama e luta por seus desejos, justiça e autonomia, enquanto vive e revive amores e suas dores; enquanto reafirma a imensidão de quem é e do que sente.
A cada novo capítulo, a cada nova fase lunar vemos uma constelação de assuntos íntimos, porém comuns a quem se permitiu um amar amplo: carnal e divino. Constelação esta que abrange o feminino, as marcas sofridas ao decorrer da vida, angústias, amores, solidão, presença, falta, realização, e tudo aquilo que for permitido sentir.
Reúne em um laço de estrelas: eu, tu, (ela) em nós. Estamos todos sob o mesmo corpo celeste, mas não debaixo da mesma espécie de encanto, quando cantam Todas as luas, de Caroline Lobato.
Entre, desligue a luz, abra a janela e contemple, brilho e escuro na mesma existência poética dessa lunar escritura.
Hellen Cristina Queiroz de Freitas