Este livro, Tema do Amado Viajante, convida e abriga o leitor na ânsia da revelação que se faz risco poético e o embala num devaneio, num último ou primeiro suspiro de quem sabe que “nem tudo que respira é de verdade”. No emaranhado de possiblidades, fragmentos vão tecendo relatos de ações interiores em um abril que se abre num espaço-tempo da memória e da entrega. Entrega que se faz pela escrita assumidamente desdobrada por quem escreve, lê e admite, em tom confessional, que “pesa manusear um lápis”.
Logo de início, desci de mãos dadas com o narrador aos porões tal qual Alaíde e, rodrigueanamente, me vi absorvendo cada dia a dia. Fui tragado pelo desdizer de detalhes tantos e proibidos. Fiquei em estado de visitante descobrindo segredos nessa Casa-Diário onde cartas tensionam sentimentos e colagens.
As palavras do narrador-autor se metamorfoseiam, e personagens vão se aproximando — Armando, Paulo, Marcos e o leitor — e são convidados a adentrar essa Casa-Diário, a seguir pelos labirintos da escrita. Como disse Gaston Bachelard, “as palavras se vão, buscando, nas brenhas do vocabulário, novas companhias, más companhias.” O filósofo e poeta acrescenta, em tom questionador: “Quantos conflitos menores não é necessário resolver quando se passa do devaneio erradio ao vocabulário racional!”. As passagens não poderiam ser mais breves e profundas e, nessa vertigem, o sumário pode ser lido como poesia, síntese do que, principalmente, se faz sentir e sonhar.
A metanarrativa onírica submerge do nível das (in)compreensões amorosas e cruas. E cada filigrana é densidade nessa busca. Cada confissão revela o que o autor-narrador procura entender na leitura, no toque, na espessura e no voo.
Breves como são, os capítulos-fragmentos de Lucca Greco guardam certa potência, que pode e deve ser expandida pelo leitor num respirar emocionado, desatando o nó de cada imagem. Fica o convite: siga o leitor com o amado viajante.
André Luís Gomes