Santuário [das tartarugas e dos vira-latas]

Disponibilidade: Brasil

solidão é um trio
de calças listradas,
um número par
e mais um,

ímpar.
os números primos,
amigos caros,
e os filhos bastardos,
cisnes raros.

é dos amantes
feita de penas
de ganso nos hotéis,
motéis, a noite sobra
nos lençóis

(a falta dos anéis)

quem dera
descobrir ainda
que os patos
não carecem cura.

R$45,00

_sobre este livro

Gosto de pensar que poemas são objetos de montar, coisas que podemos construir com as mãos: quebra-cabeças, tangrans, origamis. Vem do Oriente essa artesania milenar de transformar quadradinhos de papel em pássaros, flores, barcos. Ao ler o livro de estreia da poeta mineira Bia Mergener, me deparo novamente com essa metáfora que é uma espécie de afirmação do fazer poético: os poemas, assim como outros brinquedos, montam-se e desmontam-se a partir dos arranjos que criamos com nossas mãos, órgão motriz e matriz conectado à cabeça e ao coração por milhares de células e canais energéticos.

Cuidado, no entanto!

Ao contrário dos brinquedos projetados para crianças, Bia Mergener faz do risco um convite, nos propondo um flerte com a melancolia e sua potencialidade de ocupar o mundo a partir de uma sensibilização singular. O prazer (como essência do lúdico) mantém-se, entretanto, intacto. Bia fabrica seus objetos-de-papel polindo suas arestas para que sejam finas e cortantes, como o vidro e como o vento, como neste poema que se parece com uma fotografia em movimento: (sinto falta) da minha bicicleta azul/e dos cigarros blue camel que fumava/escondida de quem? no caminho de volta/pra casa, nos pontos de ônibus, nas ruas/escuras e úmidas de Copenhagen.

Ou como nesta outra imagem em que cor e texto confluem para um espaço poético inusitado e antagônico: Slow down, em neon na parede dos fundos/Slow down enquanto toma café (…) slow down, enquanto a vida lá/fora corre, a pressa comendo os segundos/faminta, o sol suando a testa dos passantes.

A inteligência poética da poeta encontra-se em saber que a melancolia, entretanto, é um estado transitório: uma lente. Os mesmos cacos de experiências e imagens afiadas que provocam feridas na pele fina dos dedos nos fazem querer voltar para a vida com mais curiosidade, tomar um sorvete de pistache, segurar a casquinha doce e gelada entre as mãos, imaginar (e escrever) outros mundos que possam se desdobrar no papel como os sabores ocultos se desdobram (e se revelam) na ponta da língua.

Flávia Péret

_outras informações

isbn: 978-65-5900-306-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5cm
páginas: 112 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2022
edição: 1ª

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