A esta hora da manhã e já lambendo os dedos?
A esta hora da noite e ainda de gravata?
A esta hora da vida e ainda de algemas?
A esta hora da morte e ainda com saudades?
A esta hora da viagem e ainda com enjoo?
A esta hora da infância e ainda com manha?
A esta hora da velhice e ainda se assanha?
A esta hora do show e ainda se acanha?
A esta hora do trato e ainda me estranha?
A esta hora da missa e ainda duvida?
A esta hora da barriga e ainda aborto?
A esta hora da dívida e ainda juros?
A esta hora das juras e ainda acredita?
Vou me retirar
A esta hora do velório
já nem me lembro quem era o morto.
R$45,00
_sobre este livro
_sobre este livro
O poema “Isso não são horas” nos apresenta a questionadora poeta Claudia Freire, que estreia em livro, mas está longe de ser uma iniciante. Já no primeiro verso, Claudia pergunta e responde e continua sem resposta. Inquieta e inquietante, como um poeta que se preze deve ser. Ela não fecha, não encerra. Abre novas janelas, “desesperada por ar”. Nós, leitores, respiramos.
A autora reverbera, ecoa, vibra. “Com fome/o poeta é uma mal traçada linha/que está por um fio”. Sabe que andar na corda bamba é ofício de quem envereda pelo verso. “Sou o que mais me assombra/vulnerável vulto/delicado nada”.
Seu olhar fotográfico registra horizontes e migalhas. Perspectivas das sobras.
Na mesmice do cotidiano, “a calmaria ficou impraticável”. A todo momento, a poeta desesperada por ar abre janelas como se fossem Matrioscas. Uma dentro da outra, outra dentro daquela. Outra característica de Claudia Freire é a ironia fina, um tapa na cara, deixado em “A marca indelével da emenda”.
Claudia Freire puxou o gatilho e acertou no alvo, na mira. E isso é só o começo.
Lúcia Santos
_outras informações
isbn: 978-85-7105-067-9
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 82
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2019
edição: 1ª