Relato inverídico da tua morte

Disponibilidade: Brasil

Na noite em que está só & nas manhãs povoadas de corpos.
O som sem fim do automóvel, o pio de algumas aves, três.
De cada lado do rio haverá mais e mais casas, pintadas de azul-
-claro e amarelo desbotado, sem proporção alguma, com paredes
grossas.
Uma, das cabeças do cão.
Obtém-se com a idade adulta, não explodam as pétalas, encurta
a angústia do teu labirinto.

R$48,00

_sobre este livro

Aqui há um poeta. E este seu livro, Relato inverídico da tua morte, é um acontecimento que me deixa exultante. A poesia há que conspirar em igual medida com a beleza e com o terrível, e, entre uma e outra coisa, a poética de Ivon Rabelo transita.

Poderia falar do rigor da construção formal ou da elegância e espanto que alimentam as imagens que engendra, como o “liso cetim da indeterminação”, do poema “Ma’at”, ou como os três irmãos que envelhecem e são tidos como canecas com e sem tampa, de “Nós, Abjetos”. Mas escolho falar deste livro como o desdobramento sensível de um olhar permanentemente criando/recriando o mundo, um olhar que, como a agulha perfurando o tecido, conduz a linha e, assim, dota de significados outros o novo mundo que vai surgindo. Esse olhar-agulha (aqui brinco com a justaposição, método caro ao poeta) não apenas reclama esse mundo, mas dele se apossa com propriedade.

E eis que temos um artefato poético continente da volatilidade da vida e dos afetos, da carne e do espírito desejantes e ainda do diálogo com o sagrado e com outros poetas, artistas e filósofos. Mundo arquitetado com o apuro da justa medida, que se transforma em outros como sói ser a algo vivo. Livro do Mundo arquitetado sobre um vazio que é paradoxalmente prenhe de possibilidades.

Assim, estão contidas aqui as seguintes dobras/vincos: “Terço”, poema que abre o livro à maneira de um prólogo, mas que pode ser lido como convite a uma contemplação do sagrado sem a ilusão de epifania; Mutação ou O Vazio Provocado, percurso construído em oposições, duplicidades não exatamente coincidentes, pluralidades trepidantes como um certo “eu/pássaro/leopardo/salamandra”; Tradição ou O Vazio Continuado, no qual a voz poética aponta certa genealogia, dialogando com nomes que vão de Malcolm de Chazal, escritor mauritano que encantou W. H. Auden por sua poesia simultaneamente aforismática e inventiva sobre seres e coisas, ao pensador da potência do erótico Georges Bataille; e, finalmente, Escrevência ou O Vazio Vislumbrado no qual grandes nomes da literatura e da arte são postos em diálogos que atravessam os limites do tempo, da morte e quaisquer outros: leia-se o belíssimo “De Bob Dylan para Zabé da Loca (antiode)”.

Finalmente, celebro porque há muito conheço a poesia de Ivon Rabelo, porque desses encontros raros deu-se que, há décadas, somos mais que amigos, interlocutores. E exulto porque, com esta publicação pela Urutau, o grande público terá a oportunidade de conhecer sua elegante e preciosa poesia.

Micheliny Verunschk é escritora.

_outras informações

isbn: 978-65-5900-774-5
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5cm
páginas: 76 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª

Carrinho

Cart is empty

Subtotal
R$0.00
0