um princípio teria que supor a ideia não só de que algo ali se começa, aqui se começando de maneira ainda demorada, mas que também teria como preposição a anterioridade da própria possibilidade de estarmos começando: se algo é princípio, origem, quem lhe garantiria a chance de gastarmos, aqui com nosso vocabulário sempre escasso, sempre em falta, sempre mais seco que a fonte do desejo, uma formulação que pressuporia termos chegado, enfim, ao começo? como finalidade que tem o desejo da origem, estar em um mundo no qual uma formulação sobre a origem seria um tanto idílica que nos faria querer sempre retomar e retornar ao começo, o desejo de pressuposição como uma capacidade de voltarmos para lá, já que temos ciência de para onde estamos voltando, aqui não se realiza, prova-se impossível, caso não se revisite que o fundante também pressupõe uma chance de voltarmos sempre a um ponto que não é aquele para onde estávamos indo. a menos que se saiba de onde vêm nossos desejos, nossos começos, estaremos em falso passeando em volta do medo e da negação do outro que também nos faz parte, que nos torna, assim, coletivos, principiantes no meio de um princípio principado ao precipício.
o desejo da nomeação de uma origem passa também por uma composição possível que interliga tudo a todos e a algo que também deve de alguma maneira sobrepujar a possibilidade da linguagem, que, ao mesmo tempo em que a perpassa, também a limita para que a própria chance da língua se prove somente limitada e limitante perante a sua materialidade: desejo de enroscar a sua na minha, fazer da prece algo que se endereça e se prova sempre cheia de desejo, ainda que de um desejo vazio, faz da constituição de um princípio algo que também evoca aquilo que já veio de forma faltante. pressupor a falta, o vazio, ao invés da presença, é também se tornar parte de um todo que se encaixe independentemente se sei ou não qual o meu papel perante esse grande outro que se apresenta e assume tantas faces possíveis quanto as minhas palavras poderiam formar, tanto quanto o desejo que nutro e nego seria capaz de materializar. se ainda não se sabe, enfim, o lugar de tudo perante todos, há aqui, nas páginas agora protegidas por essa capa orelhada, pronta para ouvir o sussurro gritado dessa prece, uma chance de começarmos a entender o que é que se começa a partir dos contos desejosos de outro de eduardo valmobida. leitor(a), devore-os.
Fabio Saldanha