Em Pistoleiras, encontramos todas as mulheres que existem em Missandra Almeida, mulheres que ela carrega no peito, debaixo das saias, na quentura do abraço que é convite, rio escorrendo, poesia com palavra que faz cafuné na gente. Ao dedilhar essas páginas, você entrará numa casa que venta com a força de quem sussurra segredos ancestrais que detêm o poder de lamber nossas coxas com a suavidade dos prazeres eternos. A poesia de Missandra é um convite constante para repensar a outra, que compartilha com você a costura, o crime, a escrita. Nos poemas deste livro há o segredo das ervas, cada um deles traz consigo a cura para os nossos dias, e irradia um novo sopro de vida. Missandra é guiada pelas mãe-veias, pelas mulheres e suas fases lunares, pela energia das meninas malinas, pelas destemidas que giram com a potência do mundo. Assim sua poesia tece este livro, que é, antes de tudo, um aviso de que as mulheres que há em Missandra, as Pistoleiras dos tempos de hoje, não se submetem, não abaixam a cabeça, não dizem sim no altar.
Missandra domina a arte de escrever poemas porque sabe dispor as palavras no papel. Há nas escolhas que faz uma alquimia, talvez mágica, com certeza feitiço. Bruxa das boas, ela sabe como trazer para a página as palavras que te ajudam a dizer, e o que diz ganha força porque ela usa o vocabulário que tem, a linguagem que a circunda e forma, uma linguagem que é travessia entre Bahia e Sergipe. Uma linguagem que fala para todas que existem no mesmo tempo que ela.
Pistoleiras é um livro para ler com fome, com viço, com a voragem de quem anseia por liberdade. No balanço das ancas, no erotismo do corpo que carrega o mundo, na desdobra da palavra que é nossa, temos em cada página a poesia, a revelação, a convicção de que o mundo vai ser melhor. Temos neste livro anunciações de uma mulher que move.
Euler Lopes