Pintassilgos na tua planta
que enrijece em minha boca:
tua terra molhada
em meus lábios
minha lavoura
nos teus.
R$45,00
_sobre este livro
A estreia de Pedro Torreão na poesia traz em sua maneira-de-fazer dois movimentos aparentemente contraditórios: temos um poeta extremamente sucinto, que trabalha de modo maduro o corte elíptico do verso, ofício de xilógrafo que entalha imagem e ritmo em papel; e uma poesia que parece ensaiar o tempo inteiro uma ruptura dessa contenção para se expandir em jorro, dança, quebra do cálculo que a constitui. A economia e o dinamismo em versos como “Céu que cai/ do teu passado/derruba teto/caindo gesso/ em meu/café” exemplificam essa dupla operação de retenção-expansão que permeia o livro.
Trabalhando com uma tradição lírica que privilegia a memória, o amor e a vida sensorial, o poeta não se deixa seduzir pelos caminhos já trilhados (e exaustos) de certa poética brasileira, encontrando um meio-termo entre o artesanato pessoal de Bandeira e o rigor construtivo do primeiro Gullar, apontando tanto para a insuficiência da poesia na transposição da experiência, quanto para a riqueza que essa exiguidade gera no trabalho com a linguagem.
Torreão cria essa tensão com o propósito de atestar o equilíbrio instável que rege a relação mundo-poesia, e como esse equilíbrio se sustém exatamente pelo risco de implosão, e não apesar dele. Sua poesia entende que parte da tarefa do poeta é gerar esse tensionamento, não como mero artifício estilístico, mas como modo de tatear, mapear e transgredir as divisas que separam os campos da linguagem e da experiência.
Ainda assim, a leitura de Pão só em momento algum se torna menos fluida. Fiel ao título que escolheu, o poeta produz um livro que, por um olhar mais desatento, poderia parecer mera inscrição confessional, orgânica, mas que, como o pasto bíblico, esconde em sua simplicidade os procedimentos complexos que garantem sua feitura. Torreão retesa o arco da linguagem como modo de fazer soar mais natural o poema à leitura e à escuta, em um jogo que nos desafia a entender o quanto há, nessa aparente facilidade, de criterioso e intencional. É poesia que se forma “achando pouco/desfazendo o oco/num xambá”.
Torreão nos instiga, nesse seu nascimento em livro, com aquilo que todo livro de poesia deveria trazer: linguagem consciente de sua responsabilidade enquanto código do vivido. E que “canta/formando ecos” que se grafam e se escutam.
Arthur Lungov
_outras informações
isbn: 978-65-5900-020-3
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5cm
páginas: 68 páginas
papel: pólen 68 gramas
ano de edição: 2021
edição: 1ª