PUXÃO DE ORELHA
Meu querido poetinha de merda,
Que coisa feia estás a fazer! Nunca pensei que um amigo de minha sobrinha Ana Filipa Seabra, proprietária do “Absalão”, fosse capaz de escrever tantas asnices! No outro livro, Pele de jabuticaba, percebi críticas aos os que caçam veados, atividade tão enraizada nas famílias mais tradicionais. Agora vens criticar os que caçoam de “viados”, esses paneleiros degenerados que comprometem a continuidade da geração humana! Que coisa mais indecente produzir poesia sobre gente indecisa sexualmente…
Fazer poesia conspurcando as 7 maravilhas do mundo, as 7 colinas de Roma, os 7 sábios de Roma… Não deixas de atacar nem as 7 notas musicais, as 7 cores do arco-íris, os 7 anões, e ainda levas de roldão o Robin Hood, cuja única falta era pecar contra o sétimo mandamento… Ah, se eu estivesse aí no Brasil iria dar-lhe umas boas chineladas!
Imagine só, escrever sobre os 7 pecados capitais, colocando a luxúria em todos eles! E, ainda por cima, faz poesia sobre pintores desmunhecados e escritores que se suicidaram porque também, bem-feito! estavam no caminho que contraria a natureza, esse caminho sem volta que só vai dar em Sodoma e Gomorra!
Ah, meu gajo safado, estás a provocar sarilhos, andas a abusar dar forças cândidas do Espírito Santo!
No outro livro, desta tal de Urutau, trouxeste à baila os negros da fazenda de teus antepassados, agora vens com profusão setemaníaca por sexo, por safadezas…
Tanges a lira com dedos impuros, valei-nos ó virgem mãe santíssima! Há um poema sobre a obra-prima de Alexandre Dumas, O conde de Monte Cristo, que tanto leio na solidão do claustro, e tu, gajo infame, insinua coisas horrorosas ali, Deus seja louvado! Ainda bem que todo mundo sabe que 7 é número de mentiroso. Tudo neste abominável livrinho é pura mentira… Só faltou dizeres que a barata tem 7 pregas no fiofó, mas é mentira da barata ela tem é uma só.
Crie modos! Toma juízo!
Irmã Manuela Seabra, Braga, Portugal.