toda espera é interminável para quem, tragado por aquilo que a razão humana não foi capaz de entender, padece. tal como a sensação de fome de quem não vê um prato de comida há dias e fica, com o pouco juízo que lhe resta, traçando mil maneiras de saciar o vazio no estômago. neste caso, a barriga está cheia e a fome que sentimos possui outra natureza. talvez por esse motivo inventaram o éden e a maçã proibida. deus certamente sabia das minuciosas consequências que trariam apenas uma lasca de mordida daquele suculento fruto. os mais sábios, aqueles que vieram antes de inventarem deus, diziam que a sensação de fome pode ser amenizada com a ingestão de água, muita água.
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_sobre este livro
no livro o silêncio de onde acabo de voltar, o estreante felipe nunes se expressa através da poesia escrita em prosa, ou, como querem alguns, da prosa poética, gênero híbrido surgido na europa por volta do século xix e que logo granjeou adeptos no brasil, onde é praticado desde então.
o livro de felipe reúne pequenos textos, com temática variada. os temas por ele eleitos são a natureza e seus elementos (o fogo, a água, a terra, as pedras); a negritude, suas religiões e escravidão; a preservação do meio ambiente; as reminiscências da infância em sua terra de origem, sergipe; e ora visita a crítica política (de modo sutil), ora passeia por questões de ordem filosófica e subjetiva, sem deixar de lado a paixão e o amor, forças motrizes do ser humano, do mundo. para ficar nestes.
na condição de doutorando em antropologia na ufrn, felipe poderia ter cedido à tentação de escrever textos seivados de termos científicos, de academicismos, o que às vezes dificulta a compreensão, reduzindo a fruição do conteúdo poético ofertado. mas ele cuidou de os elaborar a partir da linguagem simples, direta, lírica, bonita, resultando num livro de leitura agradável, para ser lido de um fôlego só. ponto para o novo autor. engenho e sensibilidade se conjugam no autor pela voz do eu lírico, com formulações tocantes, como essas contidas nos trechos que destaco: “encostado no canto do jardim vejo passar as estações. sou um deus que chora, esculpido das ruínas de um velho casarão abandonado. dou alimento aos perdedores que renunciaram a todas as virtudes”, em apresentação; “gostaria de ser iniciado em pedras como aquelas que meditam secularmente sobre o lajedo. geométrica beleza da imperfeição esculpida pela paciência do tempo”, de iniciação em pedras. ainda: “diga-me palavras doces, enfeite o vocabulário, recite teus códigos para que assim construa uma linguagem que desautorize a distância. […] em silêncio, falaremos da fome”, em instruções para dançar.
resta convidar o leitor ao mergulho imediato nesse mar de silêncio tão eloquente quanto tocante que é o livro do poeta felipe nunes.
Rizolete Fernandes
_outras informações
isbn: 978-65-5900-179-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5 cm
páginas: 72 páginas
papel: polén gold 90 g
ano de edição: 2021
edição: 1ª