A partir do nome O Liceu das Vozes, o recifense Estêvão Machado nos entrega a busca de um “espaço” de aprendizado que repercute falas e construções — e aspas aqui, porque, apesar da formação em Arquitetura, o que ele menos procura é a delimitação de um lugar material, físico e específico. Esse liceu é rizoma, é múltiplo e rechaça a ideia de observar a realidade por um único ponto de vista. Circula por aqui, nestas linhas, um almejar de aprendizes aptos à escuta, ao passo que também são (ou estão) construtores das ações-palavras-pensamentos ao mesmo tempo.
A filósofa catalã Marina Garcés nos diz que a “educação é o substrato da convivência, oficina de onde se experimenta as formas de vida possíveis”. Qualquer modelo de ensino que quebre a aliança de saberes em prol de tecnicismos para uma hegemonia econômica é um ataque ao ato de educar; por conseguinte, à convivência, à sociedade. O que Estêvão traz aqui em temas e formas poéticas é o deslocamento de uma visão tecnicista e unitária de um “capitalismo cognitivo” — que apenas ataca — para uma reordenação rizomática de nossos aprendizados/exercícios: todos lastros das nossas convivências e formas de vida diversas.
Os recursos estéticos aqui usados por Machado reforçam a condensação e a gravidade dos poemas. Em malabarismos de ritmos e sílabas, utiliza versos livres, formas fixas e poemas visuais que renovam palavras e deslocam olhares com uso de polissemias e homonímias. Faz uso da forma fixa “retranca”, criada pelo poeta pernambucano Alberto da Cunha Melo — uma representação estilística de um esquema tático futebolístico que mais defende (o toque de bola ou dos versos) do que ataca com bandeiras vis…
Por tudo dito até aqui, as temáticas abordadas não poderiam ser menos amplas — abordam cotidianos bucólicos, operários, escolares, foliões, musicais, desportivos… — mas com a crítica transversal de “quais saberes estamos empreendendo em nossas convivências e possíveis futuros?”.
lutar com palavras
esgrima o sentido
golpeia o contido
na pancadaria das lavras
Escrever aqui é um exercício e um ato de liberdade… Uma busca, dentro do liceu da vida, para uma linguagem que reforce o aprendizado contínuo e a partilha entre os homens.
Omar Cury, pedagogo, ensaísta e poeta