O desportista na cama

Disponibilidade: Brasil

o repolho também pode
ser servido como o são
os chucrutes, tanto faz.
e se essa imagem
é tão somente uma lição
de estética que a vida dá,
como entregar-se
roxa e burra
à sua própria ruína?

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_sobre este livro

Uma possível entrada para a poesia contemporânea, entre inúmeras, é observar o modo como cada poeta lida com os limites da própria linguagem, contornando-os a partir da tensão que guardam com as coisas do mundo. E essa é justamente uma das primeiras questões colocadas em O desportista na cama, livro de estreia de Edmon Neto, que em sua parte inicial, intitulada “Limpeza do aparelho”, apresenta uma espécie de diálogo com o leitor, no qual a voz cética e perscrutadora que perpassa todo o livro passeia por conceitos da filosofia e da teoria da literatura, faz alusão a polêmicas literárias e suportes midiáticos nos quais a poesia tem reverberado, experimenta métodos, duvida de metodologias e testa procedimentos. Todos esses movimentos são marcados por uma constante indagação sobre a poesia e seu lugar e por um embate acirrado entre crítica e arte, resvalando, inclusive, no espaço acadêmico, colocando em questão os meandros da pesquisa e a possibilidade de a linguagem figurar como objeto de algum tipo de análise.

 Também tem sido frequente a tendência aos poemas de viagem, que muitas vezes colocam a descrição e a contemplação em primeiro plano. Essa é, entretanto, postura distinta da que vemos na segunda parte do livro de Edmon, “Diário tardio”, na qual encontros insólitos, planos que não correm como o esperado ou tentativas frustradas de comunicação constroem experiências de deslocamento vividas numa espécie de desestabilização dos indivíduos, sempre implicados em movimentos quase irrepresentáveis. De modo análogo, nos poemas de “Saga de quintais”, nos deparamos com o enfrentamento natureza x cultura, quando assistimos aos engenhos da linguagem para domesticar uma natureza que não se entrega “de mão beijada ao extermínio” e arde em “explosões sob a terra”.

A hostilidade do mundo, agora assumindo contornos existenciais e políticos, volta a aparecer na construção abismal de “Dísticos para dois”, em que, derrotados por mais uma – entre tantas – “época obscura”, os personagens se perguntam “O que foi que aconteceu com a última gota de desejo?”. Talvez a resposta esteja justamente no último poema do livro, o longo e narrativo “Peso pluma”, espécie de culminância de esforços que leva às últimas consequências as disputas entre corpo e linguagem. “Todas as barras são impossíveis”, conclui o atleta a certa altura. Porém, ele ignora seus limites e ergue o peso, assim como os poetas, que mesmo diante da impossibilidade da poesia, seguem escrevendo.

Laura Assis, poeta

_outras informações

isbn: 978-65-5900-286-3
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5cm
páginas: 96 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2022
edição: 1ª

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