É no transbordar das emoções que se faz uma mãe, ora pelos hormônios, ora pelas situações. Maternar vai muito além do significado simplista trazido pelos dicionários: “laço de parentesco entre filhos e aquela pessoa intitulada de mãe”. Mesmo porque, quando esse laço se faz? Na chegada do filho, no parto ou na construção do imaginário materno? Definitivamente não é preciso gestar fisicamente para ser mãe, mas é preciso gestar nas ideias, nos afetos, nas dúvidas e no amor. Diante disso, Ariana utiliza de um inteligente humor e de todas as emoções que transpassam o corpo de uma mãe para nos fazer rir e chorar com os dilemas do ato de amar outro ser.
Aqui, cada crônica nos conta por que vivemos de modo tão dicotômico a maternagem. Culpas, dúvidas, amores e acima de tudo tentativas, tentativas imersas na esperança do cotidiano aparentemente simples. Pelo olhar da autora é possível encontrar poesia nesse encontro da infância com a idade adulta.
Cabe lembrar que a maternidade não é igual para todas, por isso talvez o termo mais adequado seja no plural, maternidades. Algumas são vividas em situações precárias, sem rede de apoio, sem respaldo financeiro, e, até mesmo no momento de parir, somos transpassadas pelas interseccionalidades. Mas acredito que, sem dúvida, ao ler os sentimentos de outra mãe, somos capazes de questionar quem fomos, somos ou seremos na maternidade. Uso o verbo no passado, “fomos”, não no sentido de anunciar que em algum momento deixaremos de ser, mas sim para explicitar que, durante o percurso de ser mãe, também são operadas mudanças em nós e no que acreditamos ser o ideal, o melhor.
Durante a leitura é possível desvendar alguns dos segredos não contados da maternidade — segredos existentes e já anunciados no título do livro: Nunca me contaram.
A criança ou o bebê, nas páginas que se seguem, são igualmente protagonistas, afinal de contas, não se materna sozinha, se materna alguém, e hoje passamos bem longe de acreditar que elas, crianças, são de algum modo uma tábula rasa. Então, Teresa e Clarice são coautoras desta obra ao preencherem sua mãe de questionamentos, de amor e ao esvaziá-la de certezas.
Juliana Costa