Você me convidou para tocar o terror, e eu aceitei escrever a orelha do seu livro. Peço atenção de quem lê aqui o primeiro livro de Keyla Sobral, pois falo baixo, pied de l’oreille: Você é escritora? Perguntei./Eu corto palavras, você disse./Com uma lâmina afiada/e sem remorsos. Keyla escreve como ela mesma diz, afiada e tão próxima de nossa vida, de nossas palavras ditas e das que estão por vir, que é como se essa escrita confessional, íntima, fosse uma conversa ou um moleskine cheio de ironia, fragmentos onde eu ou você que os lê certamente se encontrará.
Ao contrário do que a crítica literária diz sobre a escritora Ana Cristina Cesar, em que escrita literária e vida eram indissociáveis (e ainda duvido um pouco dessa certeza), Keyla flerta com a autoficção, território entre a autobiografia e a ficção (e ainda duvido um pouco dessa certeza, também). Já ganhei/um concurso de dança/em que eu só mexia/os pés/e levemente as mãos/o júri/acreditou/no meu swing, eis aqui o convite à poesia de Keyla, tocar o terror e acreditar no swing das palavras que é próprio da poesia, e cabe à poeta escolher a nota certa. KS soube escolher bem, ouçam com atenção, e, mesmo que doa, a boa poesia é sempre uma revelação: Meu primeiro amor/foi a Brooke Shields/mas você foi o segundo.
O primeiro livro de poesias de Keyla Sobral pede passagem, abre-alas-que-eu-quero-passar, de mãos dadas com o contemporâneo, mas também com a memória, o desenho, a arte, o cinema, e por que não, com suas musas.
O convite está feito, a travessia das palavras com este livro em mãos torna tudo em estado de poesia, e, como nos diz a própria poeta: Nunca falei tão sério.
Danielle Fonseca