Ninguém quer o futuro

Disponibilidade: Brasil

um a um estão indo todos
pássaros que migram no inverno
nunca retornam
colorir a morte que havia em todas as coisas
foi a pulsação de uma vida
mas ainda se faz necessário
antes que os coveiros sumam
preparar o funeral
dos velhos hábitos
se ainda almejamos dar ao coração
a flor de um outro mundo

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_sobre este livro

Os poemas de Dyl Pires aqui reunidos podem a princípio soar melancólicos. Mas é só aparência. A velha melancolia poética não parece ser a melhor chave de leitura para os enigmas e desconcertos que eles propõem. Aos poucos, estes poemas revelam sua afinidade mais profunda com uma forma delicada e incisiva de sabedoria que remonta à certa tradição mística e poética oriental mas não menos a alguns dos assim chamados filósofos pré-socráticos. Dyl Pires leu e pesquisou durante um tempo a tradição poética do haicai e aqui acena também à contundência poético-filosófica de Orides Fontela. É menos melancolia que essa sabedoria de faquir que guia e dá o tom dos poemas.

O poeta se assume como uma espécie de artista da fome que transita por esse nosso mundo inflamado mas frio, um mundo ora em chamas, ora em cinzas. A cidade, com sua junção contemporânea de explosão e deserto, de supermercado e desamparo, se anuncia como o espaço por onde o corpo do poeta se arrisca, onde ele põe à prova a sabedoria poética do faquir. A morte usa mil máscaras, mas a própria cidade “se recusa a colocar a máscara” e se empenha em fazer esquecer “os subterrâneos das florestas enterradas”. O ano da peste desmascara a cidade com outros rios e matas: “mortes caudalosas/e lives que crescem como mato alto sobre túmulos”.

Essa poética do faquir urbano desenha com precisão e errância o mapa perdido do mundo que habitamos. Não uma cartografia grandiosa e distante mas uma penetração poética no corpo desse mundo e, por isso mesmo, na sua finitude e nas suas fissuras, nas suas ruínas e fracassos, nos seus “sorrisos náufragos”, nos seus vazios ensurdecedores e silêncios repletos de gritos no fundo. Uma cartografia poética como um corpo a corpo — é do que se trata este Ninguém quer o futuro. Sem melancolia, mas com memória e desassossego. Pois é o corpo aceso do poeta que se lança nesse jogo, nessa luta, nesse trabalho de luto: “um corpo aceso como o potente mistério que nele habita/esmagando entre os ossos/o sentido da urgência/de uma vida toda”.

Luís Inácio

_outras informações

isbn: 978-65-5900-442-3
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 11,5x18cm
páginas: 76 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2023
edição: 1ª

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