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Molduras

Disponibilidade: Brasil/Europa

A maior praga que Deus pôs na Terra foi o trabalho, e, desde cedo, aprendi a ser indolente. Sob a tutela de sábios mestres, aprendi a evitar esforço. Venho de uma família habituada a sombra e água fresquíssima. Devido às oscilações da Bolsa, perdi parte da herança antes que o meu pai sucumbisse a uma enfermidade fatal que sugou os nossos recursos. Meti-me em aventuras, pirâmides menos sólidas do que as egípcias e me viro no velho apartamento oceânico. Subo e desço pelo antigo elevador com uma porta de ferro que me exige abri-la e fechá-la para que a máquina ande e reclamo dela assim como me queixo das mulheres que esperam de mim prazer enquanto concentro a energia para o meu deleite corporal. Passo meses em abstinência sexual. Para me tirarem da cama, é como arrancar a raiz de uma árvore de 1601, prefiro descansar à moda de Oblomov, personagem literário que tanto admiro. Oblomov dos Trópicos, sou eu, disso me orgulho sem disfarçar. Não vejo necessidade para disfarces. Sou firme. Estou certo da minha indolência e da desmedida displicência que a acompanha. Sigo o andar da carruagem fantasmagórica que percorre a aleia das palmeiras no jardim botânico que visito em dias quando posso desperdiçar forças físicas numa caminhada singela.

(Sangue tinto, página 20)

 

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_sobre este livro

Há autores e autores. Dito de outro modo, uma cultura saudável, que é como quem diz, orgânica, pressupõe ao lado de autores consagrados a existência de escritores e poetas menores. Nada de anormal nisso. Dir-se-ia ser até ser essa a ordem natural das coisas. Mas depois há outro tipo de autores: aqueles que o grande público não conhece, cuja carreira é discreta, seja por que razão for, e que, no entanto, revelam fulgor literário capaz de empalidecer o virtuosismo narrativo ou lírico de autores consensualmente canonizados. São autores raros, porque detentores de uma extrema originalidade, como se reinventassem a linguagem. Sempre que me deparo com um, momento bem raro e irradiante, sinto-me como um garimpeiro que dos confins de uma caverna obscura descobre de súbito a luz incandescente de uma preciosa pepita dourada. É seguramente o caso de Kátia Bandeira de Mello, escritora, poeta, artista visual de origem brasileira e há muito radicada nos EUA. Lê-la é penetrar na singularidade de algo verdadeiramente novo. Não vou aqui, por razões de espaço, avançar mais sobre a obra estupenda desta autora e sobre a qual um dia gostaria de escrever demoradamente (essa é também, e talvez sobretudo, a grande função do crítico). Até para manter a curiosidade de quem a quiser descobrir. Por favor, leiam-na. Verão que não exagero e que as minhas palavras não são ociosas.
Sérgio Guimarães de Sousa

 

Kátia Bandeira de Mello é signatária de uma arte heterodoxa, instância em que palavra, imagem e plasticidade se metamorfoseiam em densa e intensa polifonia. E é com o cinzel afiadíssimo que realiza as incisões para revelar os multifacéticos contornos de uma escrita visceralmente ligada aos signos da linguagem. Seu estilete não economiza energia estética para burilar e revelar camadas semióticas, para, sob essa praxis, subverter e rebatizar o significante Molduras. Não há limite, fronteira ou litoral para o alcance caleidoscópico de seu olhar sátiro-crítico-reflexivo; dele brotam os desdobramentos, experimentações, remixagens e paradoxos ante a articulação com o verbo que se transforma em tecido de sofisticada textura. Com ousadia, ela vem ao longo de sua carreira revelando uma performance invulgar.
Eltânia André

_outras informações

isbn: 978-65-5900-843-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5 cm
páginas: 262 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª

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