Imagine inventar lendas, reescrevê-las, se inspirar nelas para relatar e revelar o Mato Grosso do Sul. Pois este livro é isso! É dessas narrativas e literaturas que ele trata. Fala do tempo das Missões, de fazendeiros e boiadeiros, dos bichos e plantas (com os quais inventa lendas super sul-mato-grossenses), da História — até com H maiúsculo.
Pinta cenários e imagina espaços para a Mula sem Cabeça e o Lobisomem. Registra aparições e sustos do Pai do Mato. Não poderia faltar o Saci, Jacytatere, original, mestiço. Vamos do Pantanal ao som da viola de cocho para a Serra da Bodoquena, dos trilhos da Estrada Noroeste para os ervais da antiga Companhia Matte. A obra lembra, adota ou batiza os elementos culturais paraguaios, como o idioma guarani, Madrecita Caacupé e o Nhanduti.
Numa mimética criação, parafraseia José Saramago, transladando os sagrados evangelhos para as paragens e situações da fronteira do Mato Grosso do Sul, suas gentes, seus espaços, usos e costumes.
Ao final do livro, contos de criação inspirada na escritura de Jorge Luis Borges, nos quais lemos/vemos episódios da Retirada da Laguna, acontecidos no chão natal do escritor, recriados e repensados, num amálgama de ficção, pesquisa e fatos em que a Literatura e a História dão-se as mãos numa alquimia reveladora…
Mitologias Pantanal é um livro belo, profundo e sinuoso, que mostra através de suas lendas, seu folclore, fauna e flora exuberantes que o Mato Grosso do Sul é muito gente, muito humano. E é esse ser humano, sua história e cultura que se afirmam e se criam (n)estas Mitologias. Literatura total, à beira do impossível.
Me deu uma vontade doida de gritar… Pois grito:
— Pipipipopopupuúúú’!