“Mas em termos de cultura”, continuou Wagner, “somos todos cristãos. Não concordo com sua premissa e não posso aceitar que possamos ser gregos inseridos numa cultura como a nossa. Todos nós celebramos o Natal… e você também”. Chico pediu outra dose de vodka assim que o garçom trouxe-nos outra cerveja.
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_sobre este livro
Mauristaad é um romance camusiano que acompanha Gabriel Villa-Lobos após este receber a notícia da morte de seu pai. A filosofia existencial de Albert Camus — e suas principais obras — norteiam a construção de sentido que Gabriel busca erigir após o reconhecimento de que ele era, na verdade, um Édipo invertido do amor paterno: “O amor de meu pai, que mendiguei a vida toda, estava lá fora, morto, estupidamente morto”. Esse percurso é emoldurado pelo Recife Holandês de Maurício de Nassau, que serve como fundamento ao sentido histórico do tempo presente. O primeiro capítulo — “Anotações em uma tarde devastada” — é regido não pela aceitação, mas pela recusa à indiferença existencial camusiana da obra O Estrangeiro, pois a dor de um amor nunca realizado coloca Gabriel diante de suas limitações e vazios. A Morte Feliz emoldura o desfecho dessa busca por sentido, pela construção do mundo a partir da celebração da amizade — uma vez que os amigos são uma constante na celebração da vida mesmo no sofrimento — funcionando como um refrigério diante do absurdo. J. C. Marçal compõe uma filosofia moral lastreada na Grécia Antiga dialogando — a partir das angústias de Gabriel — com as questões de nosso tempo, o que nos permite compreender os meandros da pós-modernidade a partir do pensamento da morte. O Carnaval recifense, os botecos, a sexualidade, a moral cristã, nossa finitude radical e a amizade adornam esse romance de viés filosófico que reconhece o Mito de Sísifo como um fato incontornável, mas necessário para que possamos, a partir de nós mesmos, de nossa cultura e de nossa ancestralidade, saltar sobre o abismo da falta de sentido na vida e recompor o mundo. Assim, Gabriel pode afirmar: “Sê fiel a ti mesma, a morte diz. Sê a mais ampla luz daquilo que habita e se torna concreto, daquilo que vale a pena ser visitado. Eis o limite que se esconde no próprio limite. Os gregos tinham uma palavra para isso: tò auto, o mesmo. Ser e pensar, viver e vibrar é a maior tragédia e a maior recompensa. Não me interessavam mais os projetos do amor, da memória, da reconciliação. Eu já estava reconciliado”. Mauristaad é a celebração da reconciliação consigo mesmo.
_outras informações
isbn: 978-65-5900-844-5
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x22 cm
páginas: 96 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª