Quem distraidamente folhear este livro poderá pensar: mais um livro de poemas sobre o mar. Sim, mais um livro de poemas sobre o mar — porém, com um diferencial que o leitor mais atento tenderá a concordar comigo: mais um livro de poemas sobre o mar, mas ancorado num sentimento pra lá de perigoso: a paixão pela palavra.
Jandeilsom vem construindo uma trajetória literária em que essa paixão extrapola asfalto e favela, rua e academia, luta e poder: simplesmente salta aos olhos e volta ao coração. Ser apaixonado pela escrita requer a sorte da inspiração, mas também a dedicação de cuidar do que pede, cotidianamente, crescimento e foco.
“Sentimento um tanto tato/ Proscrito saudade e contentamento/ Memória, não esquecimento,/ apneia poética/ desejo contrito” (em “Nada-dor”) e “Adiante o silêncio devora o mar/ E a última luz era estrela” (em “Antes do tsunami a resistência”) são provas dessa paixão em estado maduro.
Outra prova desse amadurecimento poético está em “Pororocando o mar”: “Quantas margens te tocam/ nesses rios de saudades, nascentes pequenas,/ de correntes que jorram/ nos caminhos ancestrais/ por onde tu passas/ na força do vento ou do silêncio/ sendo onda que dança/ no encontro do mar?”: típico poema que, de tão preciso, dá margem a múltiplas interpretações. O autor registrou um momento de amor a dois ou a sua própria relação com a poesia? Pouco importa saber. Recomendo, apenas, sentir.
Usando o mar como ref(v)erência, o livro também traz à tona o eterno mistério que habita a essência de todo escritor: de onde vem tudo isso? A criação, em si, a surgir no horizonte e pedir nascimento. Em “No fundo o poema é mar”, Jandeilsom dá a sua versão que, ele bem sabe, não passa de uma suspeita: “Como em um céu azul de maritacas/ Transparentes são as águas onde/ Nadam as letras e as palavras/ Tão profundo e denso/ Nadam em sincronia/ Preenchendo/ O oceano.” Uma suspeita a ser lida e ouvida com atenção.
Jacinto Fabio Corrêa
Poeta