Lençóis frenéticos

Disponibilidade: Brasil

venho confundindo a função dos objetos
tenho posto farinha no bumbum do nenê
talco no teu mingau
afago-te o cabelo ralo como se limpasse o fogão
e limpo o fogão como se limpasse a mim
esfrego cada cantinho, não quero ver nada
feio, só quero que ele fique como novo


nunca ficará.

R$45,00

_sobre este livro

Em Lençóis Frenéticos, segundo livro de Fernanda Eda Paz, a poesia se apresenta despida das diplomacias iniciais, próprias de estreias. Explico-me. No livro inaugural, o primeiro poema publicado solicita, de quem escreve, algum aceno à tradição, alguma notícia de ciência sobre as muitas poéticas que vieram antes daquele gesto criativo, como faz, por exemplo, Adélia Prado em sua Bagagem de estreia (1976). E, de certa forma, Saudades de estranho, lançado
em 2017, nos apresenta uma escrita atenta ao passado, na mesma medida em que elabora o presente — com epígrafe de Hilda Hilst, desenvolvendo poemas como “Tem uma cidade dentro de mim” e “Os burgueses do Leblon”, suas imagens e movimentos de linguagem demonstram que muitas vozes poéticas estão ali, lado a lado, caminhando juntas.

Agora, não. Se no livro de estreia há “uma cidade que não morre / uma cidade que não nasce. / Tem uma cidade dentro mim / que preciso parir”, aqui, despida da macropolítica do cotidiano e mergulhada na singularidade do corpo, a voz poética, mirando o espelho e não mais a cidade, afirma: “preciso amá-la, preciso desesperadamente amá-la/ ensinar a ela o que é o amor, o amor bom / ou a tragédia será para sempre / o nosso destino”. E nesse mergulho, nessa atenção à fabricação de corpos e línguas para os afetos do presente, o amor, “amorinteiro”, enquanto campo e gozo da completude do instante, é a prova dos nove. Nele, cabe nomear os afetos — sejam os ativos, alegres, construídos a partir de quem enuncia e sabe que sangra e transborda (“Eu sangro, eu desço feito cascata / eu transbordo para os lados / em que você diz: não!”); sejam os afetos tristes, passivos, impostos pelo capital e sua face sempre branca, masculina, cisgênera, misógina e violenta. Cabe também nomear o luto, assentar livros e ideias, pois, a despeito de todas as questões, laços são laços. Cabe, inclusive, voltar ao útero, evocado no livro de estreia, pois sua escrita vive em plena consciência de que, entre mãe e filha, é impossível haver “objetos sem história”.

Lençóis Frenéticos apresenta uma poeta consciente daquilo que deseja dizer, derramar e expurgar enquanto linguagem, em exercício contínuo de tatear, na tangência, novas possibilidades de casa.

Moisés Nascimento

_outras informações

isbn: 978-65-5900-301-3
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5cm
páginas: 84 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2022
edição: 1ª

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