Ficamos eu

Disponibilidade: Brasil

eu estive tão perto
minha calma assistia solene
cada fibra do fio que partia
como se eu não estivesse

R$45,00

_sobre este livro

Escrevo esta orelha para que outras ouçam as palavras da Talissa Ancona Lopez, que batem à porta do ouvido, desesperadas por entrar. Recordam-nos que o desejo não espera, pois onde crepita, feito reticências fúlgidas — “bom, evidente que o desejo ele…” —, as perguntas brotam e a eternidade se desdobra.

Mediante uma poética do “contrapé” delicadamente gozadora, essa ânsia traz na esteira do seu tremor uma contraposição: é “meio pé” de equilibrista que rodopia em “meio-fio” de verso boiado, antes de dar “meia volta”, por “meio querer”. A palavra tombada da ponta da língua desdiz ao mesmo tempo que arrisca, e a prontidão da escrita, empenhada em costurar lembranças semiditas, palimpsestos ruidosos e cantadas suspiradas, desemboca numa airosidade buliçosa e aérea.

Em um primeiro espasmo do livro, o poema Dictionnaire du corps traz à luz a espessura altamente carnal do caldeirão onde ferve a escrita. A dobra mais sensível do “origami” se entreabre, ofegante, em Carona na capital: “por baixo das palavras as mãos teimam”. Envolto em palavras que o “rondam” e “apressam”, o corpo insiste em se dizer. Sensual, obstinado, espalhado entre mil contorções desvairadas e algumas convulsões silenciosas. Em Ficamos eu, a poesia não irrompe, tampouco surge. Ela jaz, à flor da pelepapel.

Aí, frisa-se a importância da psicanálise para a autora. Além do leitmotiv da sessão como componente do cotidiano pincelado neste livro, sua leitura recoloca de forma original a questão da relação entre o suor analisante e o elã poético, notoriamente aberta pela poeta H.D. em Tribute to Freud. Se ambos nascem do mesmo arrebatamento diante do “mar de palavras” escorregadias que parece não acabar nunca, a frequentação do divã não seria uma extensão da cama de lençóis desarranjados em que, segundo André Breton, a poesia se faz como o amor?

Os versos aqui selados, frutos de uma aposta inédita, respondem à pergunta de modo singular, pela public-ação. Assim, enquanto uma análise pode levar à redução do ego imaginário a um puro “eco seco”, ao lançar seu primeiro livro, Talissa demonstra um passo dado além (ou aquém? ou simplesmente fora?) da depuração que o título evoca, discretamente, do lado da solidão com a qual cada um há de carregar sua dor.

Convidado a se constituir como horizonte renovado de escuta, cabe ao leitor, doravante, tornar-se a caixa de ressonância do grito íntimo da poeta. Basta abrir essas páginas “devagar, como se economizando o tesão do ruído do papel pelo corpo”.

Marie-Lou Lery-Lachaume

 

_outras informações

isbn: 978-65-5900-028-9
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 94 páginas
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2021
edição: 1ª

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