_sobre este livro
Jozias Benedicto chega pisando firme no terreno da poesia como um astuto veterano de guerra, cabelos grisalhos e pele calejada por tumultos psicológicos e recorrentes batalhas interiores, sem vencedores ou vencidos. Com seu fuzil azul imaginário, exorta versos na direção de almas que se desassossegam facilmente no redemoinho das paisagens urbanas – de imagens noturnas, algumas delas deliberadamente nubladas; outras, esquartejadas no centro da página.
Erotiscências & embustes, o livro de estreia na poesia de Jozias Benedicto, é a inevitável dilatação sonora de seu extenso e premiado inventário de contos. Os poemas aqui reunidos são quase contos quase prontos, quase coitos. Meio confessionais, meio fotográficos, feito bichos-grilos cantantes e cortantes.
A poesia de Jozias Benedicto não é uma receita de erotismo urbano, da posologia de prateleira do sex-shop. É o corte não-linear na própria carne do autor. É o corpo em movimento, inquieto, agressivo, trágico, lascivo. Erotiscências & embustes é também o impulso político antipanfletário que dialoga com diferentes armadilhas da literatura, inclusive com a poesia.
O corpo, para o poeta, é quase um cão sem dono, um pedinte no meio da alegoria das ruas, porque, como consta na alquimia do verso, “meia vida nunca”. A poesia de Jozias Benedicto não tem pudor, mas pendor por aquilo que é intenso: às vezes doloroso, de uma ressaca bruta e amargurada; noutras vezes é puro desleixo, sem complexo de culpa, desaforado, como na caricatura de um Gonçalves Dias nu pelo desvão da cozinha.
Jozias Benedicto é filho desses purgatórios solares da beleza e do caos. Sem cerimônia, desembarca neste livro com seus poemas de armadura e purpurina. Como um trovador andrógino, consegue espremer o suor que escorre da alma que há no sexo. Qual Lou Reed em Walk on the Wild Side, prefere pisar o lado selvagem da calçada. A poesia agradece.
Félix Alberto Lima