Um assombro por cima do muro, uma casa engolida pelas tripas do chão, um rapaz encharcado de céu, uma santa que só aceita luxúria como pagamento de promessa, um homem que desaprendeu a viver por cima da terra. Morte, esquecimento, renascimentos, sumiços, partidas e retornos pela enchente da maré. Feitiço, encantamento e crítica social. Assim é Embriaguez de Jenipapo, livro de estreia de Fabíola Cunha no gênero contos. Aqui encontramos uma escrita poética composta por oralidade, a força das experiências vividas numa geografia das águas e por isso fluida, compondo cenários como pintura.
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_sobre este livro
“Quem primeiro botou as vistas no assombro dessa manhã, não sei dizer”. A beleza traiçoeira da frase de abertura desta coletânea já nos alerta de que enfrentaremos textos que demandarão de nós astúcia na leitura, para que não escapem os sentidos profundos e as intenções disfarçadas em cada sentença esculpida nos contos.
Fabíola Cunha conhece o que declara ignorar. A resposta desse falso enigma é justamente o elemento que nos conduz pelas linhas de sua escrita singular. Por meio de sua arte, falam ancestrais e vivências coletivas com a tradução de quem domina as múltiplas possibilidades da palavra e o ritmo da prosa.
Impressiona a capacidade da autora de criar paisagens. Não se trata da descrição de cenários, mas do retrato feito por meio de palavras para alcançar o sotaque e a gênese das personagens de suas histórias — o sotaque não como dicção em sentido literal, mas como expressão que traduz as experiências das figuras fictícias que a artista cria.
O poder de síntese e a contundência de Fabíola revelam-se em soluções como as contidas no conto “Corpo de lama”: …alguém dado a simetrias podia observar uma leve inclinação de uma das paredes. E o cristão cantou que sábios fazem casas sobre rochas. A questão é mais de dinheiro e menos de sabedoria. Também podemos ver essas habilidades no conto “Doum”: E que ninguém pense em força-tarefa daquelas de filmes. Aqui não voaram helicópteros nem latiram cães farejadores, policial não anotou o andar de cada um. Aeroporto e rodoviária não tomaram ciência do acontecido, nem TV fez cobertura nenhuma. O trânsito correu livre na BR 324. Carros sem averiguação, autoridades não emitiram um alerta sequer. Quem busca o seu sumido é o povo.
Embora interesse saber quem primeiro colocou as vistas no assombro de nossas manhãs, Fabíola, com a força poética de sua prosa, convida leitores e leitoras para que a acompanhem nos percursos de quem olha o espanto da vida com verdade, intensidade e beleza. Receberá a recompensa quem aceitar o convite.
Paulo Vicente Cruz
_outras informações
isbn: 978-65-5900-446-1
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x19cm
páginas: 52 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2023
edição: 1ª