se a ecdise é o processo de transformação de vida e morte do corpo para permitir o crescimento, lude freitas vem nos lembrar que essa transformação só é possível se há alimento. aqui, abaporu nasce, vive e planta sementes que germinam a fome, junta aos poucos lascas de palavras e nos confessa: escrever tem a ver com a vontade de lamber as coisas, é pela sede a escrita. abaporu parece se construir na percepção de uma presença-ausência daquilo que digere – ideias são como nós porque é preciso comê-las – abaporu se percebe na falta, se percebe na fome por comer aquilo que não se é, por se tornar e ainda não ser. aqui habitam tartarugas, moscas, urubus e mariposas. tornamo-nos montanhas que olham pela janela do quarto e se perdem em lembranças do recreio ou anseiam por um amanhã que parece nunca. nestes poemas, lude freitas nos ensina que há perigos por todos os lados, que a morte nunca nos abandona, mas que muitas vezes, como no ato antropofágico, ela também significa vida, também soa renascimento. entre passadas de elefante e passadas de formiga, encontro feliz por todos os cantos do cômodo de onde abaporu nos olha, inúmeros gruminhos de sua voz. Lude Freitas
Viviane Nogueira