Relacionamentos compõem uma geografia própria. Geografia porosa que também se desenha em mapas. O que se lê nesta narrativa poética é o descobrir dessa geografia e o desenhar de seu mapa. Sem clichês, por vezes de forma desconcertantemente íntima, Jadson Rocha nos convida a entrar no espaço que só existe na fricção que é construir uma vida, mesmo que seja só um sopro.
A cidade, o planeta e o corpo representam aqui espaços que se fazem e desfazem a todo instante, numa dança de células e ruas, luzes e sombras, líquidos e asperezas, encontros e despedidas. caminhei toda a água do meu corpo nos faz submergir na vastidão do espaço de uma história de amor, ainda que ela caiba em um apartamento, assim como as células que se desprendem de um corpo ao longo de uma semana podem caber no reservatório de um aspirador de pó. É que há tanto no que parece não ocupar espaço.
Caminhar seguindo os mapas aqui apresentados é descobrir que amar é também um ato extremamente solitário — pressupõe acompanhar o tempo de forma metódica, marcar, com precisão, as páginas do que se lê.
Jadson Rocha dialoga com um outro ausente, chamado apenas de você, um nome oculto que se desdobra de mil formas na geografia íntima que olhamos como voyeurs. Quase parece que podemos tocar aqueles corpos e pedras que povoam os poemas delicados deste livro. Pura ilusão.
por descuido alguma frase curta
na entonação certa reivindicava
sua presença a meu lado
e de súbito pouco mais de mil quilômetros
assim suprimidos do mapa
ainda que meus interlocutores entendessem as palavras
— elegemos para nossa língua justamente as mesmas palavras
da língua oficial deste país desencontrado —
conheciam as palavras mas ignoravam tanto
seu nome é um nome comum de homem
quando o chamo em voz alta soa para mim inconfundível
É desse descuido que surgem as frestas que nos permitem ver o inventário de miudezas que compõem o amor, o eu, a cidade e também o chão da cozinha. Este pequeno livro é ainda um guia para navegar o efêmero. Que sorte a nossa!
Anna Davison