Cai na prova? é livro de matéria que, como estudantes, sempre quisemos aprender: as camadas descamadas da vida das professoras. Essas seres que nos acompanham por anos a fio e de cujas existências nós acessamos só uma parte, muito pequena, revestida de autoridade. Tal verniz, a autoridade, aliás, lhes retira toda a humanidade. E é por isso que, não raro, entre risos bobos e curiosos, a criançada vira e mexe quer saber se a tia também arrota, namora, sai com as amigas, sabe dançar. Na poesia de Ana vemos que a professora, sobretudo, deságua e flui como um rio entre livros, interditos, porquês, medos, amores, desejos e lençóis.
De outro modo, este livro também é matéria de crítica mordaz, que afirma o corpo docente como corpo político. Contraria não só as estruturas sociais que forjam a Educação, como também os mecanismos que tentam, a qualquer custo, conformar os corpos das mulheres que se dedicam às relações de ensino-aprendizagem. Encontramos nas poesias inscritas aqui a defesa da professora enquanto corpo múltiplo, marcado pelo que habita a sala de aula e seus anexos, e pelo que habita o fora dela. A professora-fora-do-que-se-espera de Ana Ladeira nos convida, agora como pessoas adultas, a ler criticamente a “professorinha” de nossa infância, sem que caiamos em julgamentos pessoais. É uma crítica que acolhe a ternura.
Num percurso que se desenha em idas e vindas, destacam-se momentos desse corpo que é tudo ao mesmo tempo. Na greve, a gente adentra a intimidade da trabalhadora, com surpresas, cansaços e convicções. Nas reuniões pedagógicas, mergulhamos fundo no que faz pulsar seus desejos. No conselho de classe, o contraste entre uma Educação antiquada, rasteira e limitante, e a realidade tão mais diversa e elástica. Ao fim, é posto à prova e à queda um olhar original e audaz sobre o magistério e as paixões que o atravessam.
Silvana Marcelina