Bastardo

Disponibilidade: Esgotado

Os dias só existem através
da fumaça que sai do escapamento
do VW 88 que carrega uma
mudança pela Padre Anchieta;

Lembro de estar nos ombros
do meu avô em frente a um pasto:

eu olhava
e ainda olho
e nada me encantou mais do que esse olhar.

 

_sobre este livro

_sobre este livro

Bastardo, segundo o dicionário Aurélio, é quem nasceu fora do matrimônio; degenerado da espécie a que pertence. Expulso para o exterior, o bastardo é um forasteiro, um andarilho. É também um fora da lei, um outsider, um sem-lugar. Desse modo, a bastardia sugere um desvio, fissura a possibilidade de algo novo, impensado. A bastardia sugere contaminações, hibridações, narrativas rizomáticas que não se fixam num centro, numa verdade. A bastardia sugere, por fim, uma traição, denuncia a ordem e os poderes estabelecidos, as significações dominantes, as forças que querem nos paralisar. É desse lugar mestiço, contaminado que parte Victor Prado, é esse lugar que lhe serve de passagem e solo para sua poesia.

Não será por acaso que o primeiro capítulo do livro se chama Voçoroca, é o poeta frinchando linhas de fuga, gastando os sistemas e as estruturas rígidas do mundo e da linguagem. Voçoroca é um corte vital que comunica interior e exterior, e permite que o dentro não adoeça em solilóquios egocêntricos e o fora seja um lugar aberto ao outro, aos encontros:

Vários pensamentos e
ideias
que borbulham numa panela
exposta aos quatro ventos
sustentada por uma
moldura
corroída pela vertigem
que essa vida
causa a todos que
se dirigem à descoberta
e se deixam abrir
para si mesmos
Uma porta aberta
entre o dentro e o fora

Porque não há experiência[poética] sem exposição, sem transposição de fronteiras e criação de espaços vazios que intensifica e diversifica a caminhada. Quem se sente pleno não pode ver nem experimentar o limite. Por isso, o bastardo, ser incompleto, móvel, é um experimentador. Nômade, sai sem destino, entregue às forças matéricas do caminho, os “ ventos em espirais”, o ”rio enxuto”, o “mudo arame”,  “estrelas” e “cadeira bambas”. Passeio é o segundo capítulo do livro, esse “lugar de não-sei-onde”, passeio benjaminiano: tremulante, circunstancial, frágil, experimental:

todos viram à esquina
onde homens jorram-se

beleza liquida
liquidez de cegos

A liquidez do caminho impede a sedimentação de um centro, libera um fluxo desejante, ou seja, prefere os vazamentos da água à unidade firmada nas margens de um poder. Dessa maneira, o poeta produz um suplemento de potência, que alarga e desconforma sua visão, o Caleidoscópio, terceiro e último capítulo do livro:

         Espaços se formam entre as
frases,
entre as palavras.
                                          vácuos.

O desejo, conforme Deleuze, é revolucionário porque sempre quer mais conexões, o desejo é múltiplo e multiplicante, é, nesse sentido, caleidoscópico, um espaço móvel e movente, desterritorializante. Nenhuma instituição, nenhum sistema, nenhuma língua, nenhuma verdade se fundará neste lugar movediço. Por isso, ler Victor Prado não é conduzir sua escrita a um centro original e explicativo, ao contrário, Victor Prado a explode em pedaços para se lançar em um caminho de destino incerto. É um bastardo que vagueia pela linguagem voçorocando seus espaços para nos revelar um mundo multifacetado, fragmentado, dinâmico e colorido

Meu corpo foi além de mim
e dilatei o infinito;

Carla Carbatti

 

_outras informações

isbn: 978-85-69433-14-9
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 102
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2016
ano copyright: 2016
edição: 1ª

Carrinho

30 (poemas de amor) para (os) 30 (anos de alguém que nunca amei tanto assim)
30 (poemas de amor) para (os) 30 (anos de alguém que nunca amei tanto assim)
Quant: 1
R$40,00
Subtotal
R$40.00
1