Recebo com candura
formas brutas
— sobras, restos
falsos versos
lapidados com apuro.
Empilho sonhos
ergo futuros
sobre conchas nacaradas
que as ondas salgam
enquanto as sugo.
R$45,00
_sobre este livro
Aragem significa vento brando e intermitente.
Os poemas desse livro, não por acaso, provocam movimento. São sopros, brisas, ares, ventos, ventanias, suspensões. E o que não está parado, está vivo.
Ao ler Aragem, talvez o leitor se pegue tomando um vento em algum lugar inesquecível, talvez sinta os cabelos revoltos à beira da praia, talvez assista a um voo de borboletas, o reflexo do céu em um rio, o movimento leve e geométrico da bailarina. Talvez sinta o movimento do universo, perceba seu lugar no tempo, se projete. Perceba “que o passado já não serve / o futuro pouco importa / existo nesse intervalo exíguo / entre o aqui e o agora”.
É possível que tenha de fechar a janela para que as folhas do livro não passem sem querer.
Elisa Ribeiro, com sua escrita madura e desassossegada, não escolhe palavras por acaso, cada verso tem propósito e cabimento. Isso se reflete como um gesto de cuidado e afeto não só com o poema, mas com o leitor: “não há tristeza sem fim / nem futuro sem surpresa / e fazer valer a pena / depende apenas de mim.” A poeta estende o poema para que seja tocado, e nesse lugar o leitor espera, imerso no conteúdo, conectado ao sentido e encantado com a musicalidade.
Na vida e na leitura: “[apressar-se é engano]”. O passar do tempo, a alteração nas paisagens, a vida que se transmuta, os seres, todos estão de passagem, de carona com o vento: “impossível retê-las / as primaveras, tão ligeiras, / melhor vivê-las, as que lhe restam, / do que contê-las / no tíbio abraço de um poema.”
Não importa em que lugar o leitor esteja enquanto lê Aragem, uma janela vai se abrir e será possível sentir a brisa passar. As páginas deste livro acompanharão os movimentos dos ares, deixe-se acompanhar também. “A paz já não é pomba / sozinha, não voa / repousa na areia plana / ecoa azuis no olhar / aberta a mudanças.”
Os poemas de Aragem estão livres, talvez nem saibam disso. Não é difícil desconhecer tudo o que podemos alcançar, mas a poesia é uma aliada. “De sua redoma, / a mulher não sabe o vento”.
Sabrina Dalbelo
(escritora e poeta)
_outras informações
isbn: 978-65-87938-61-5
idioma: português
formato: 12x16,5 cm
páginas: 100 páginas
ano de edição: 2021
edição: 1