Apagar histórias com a língua

Disponibilidade: Brasil

que susto levei ao acordar e perceber que, ali, onde deveriam estar minhas vísceras, órgãos responsáveis pela preservação de substâncias vitais, havia pedaços de pedras. num domingo de outubro, sentia um medo concreto: medo em forma de britas.

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_sobre este livro

Ronie aprendeu a dançar com a literatura. Má professora, ensina o que não devemos dizer. Para a dança contemporânea, se você fala demais, corre o risco de perder a língua, assim como o rapaz da cena final do filme Salò, de Pasolini. Ronie não perdeu a língua; perdeu o emprego, a casa, o sucesso — assim como os poucos que movimentam o universo das artes, um risco ao entretenimento. Virou morador de rua, e o verbo “virar” não representa uma condição: foi Ronie quem decidiu ir para a rua. (Segure seu sorriso enviesado, ele só faz sentido para você). Ronie passeia de um bairro a outro, de uma cidade a outra, de um continente a outro, sozinho. Quem quer fazer companhia para um vagabundo? Em seu corpo agregam-se a sujeira, as bactérias, a visão. Ele vê o que muitos veem e, em voz alta, diz o que muitos não podem dizer “porque têm uma abelha no chapéu ou óleo escondido sob a axila, foram apanhados em flagrante delito, e agora pagam por isto; a liberdade deles está por um fio, estão dispostos a tudo”, disse-lhe outro morador de rua, Milorad Pavić, Ronie me contou. Claro, escrevo esse texto enquanto observo o seu percurso. Estou do outro lado da rua. Tomo distância; a proximidade causa desconforto. E, não, caro benfeitor, isso aqui não é uma metáfora que samba sobre a condição desumana de quem, de fato, vive na rua. Isso aqui não é arte cívica. Isso aqui se chama literatura. No planeta das letras existe também os que têm casa e os que fazem seus trabalhos sobre os que não têm; os que não têm casa e editam seu primeiro livro. Chegou a hora, Ronie é um deles. Seu acervo de experiências leva no título o verbo apagar como o disparador da história. Evidente: quem tem maison, utiliza borracha; quem mora na rua, apaga com a língua. Eis a diferença, caro leitor.

Ronie: Muito obrigado pela apresentação, quero assistir esse filme.

Wagner: Deus te abençoe. Passei mal durante cinco dias. Pasolini disse que esse não era um filme para assistirmos até o fim. Salò o levou até a morte. Mas, você também vai morrer com seu livro. Seja bem-vindo ao clube.

Wagner Schwartz

_outras informações

isbn: 978-65-5900-124-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5 cm
páginas: 56 páginas
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2021
edição: 1ª

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