Annie Ernaux: identidade esfarelada

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A partir de uma seleção de livros de Annie Ernaux (Prêmio Nobel de Literatura 2022), este ensaio propõe a problemática da fragmentação da identidade através do tempo como central na obra da escritora. Com enfoque no estudo de Os anos, André Bazzoni examina em detalhe os diversos procedimentos de escrita que lhe permitem, afinal, identificar uma arquitetura textual em núcleos paralelos e contínuos, entre temporalidades diversas e entre diferentes pessoas gramaticais sem jamais tocar a primeira do singular (esta que, entretanto, se deixa intuir, entrever, quase emergir das profundezas à superfície). Essas estratégias narrativas são igualmente postas em perspectiva pelo autor com o tópico mais geral do fazer literário, a partir de questionamentos sobre a relação entre autobiografia e ficção, e do tratamento original que Ernaux dispensa a essas questões.

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_sobre este livro

A grande e crescente comunidade de leitores de Annie Ernaux tem agora ao alcance um estudo acerca de um aspecto que, embora central na obra da escritora francesa, tem sido pouco sistematicamente explorado pela análise crítica: os efeitos da passagem do tempo sobre a percepção que nos fazemos de nossa própria coesão como indivíduo, isto é, de nossa identidade pessoal. Quem de nós nunca experimentou essa espécie de incômodo perante certas fotografias em que nos vemos em outras épocas de nossas vidas, como se estivéssemos diante de uma outra pessoa que, no entanto, verifica conosco — com nossa versão atual de observadores das fotos — essa aparentemente rígida e intransferível relação de identidade?

Apoiando-se em vasta evidência textual extraída de uma seleção de obras da autora, André Bazzoni nos mostra como a problemática da fragmentação da identidade pessoal se desenvolve na obra de Ernaux, e como ela culmina, em Os anos, numa escrita complexa e original, forjada de maneira especialmente adequada à abordagem do tema. Em particular, o autor deste ensaio esmiúça com método e rigor (numa apresentação acessível ao público não-especializado) os procedimentos linguísticos que permitem a Ernaux elaborar em Os anos um tecido narrativo em múltiplas camadas — sobretudo no que se refere ao tratamento dispensado nessa obra aos variados usos dos pronomes pessoais e dos tempos verbais. É então pelos diversos retalhos que compõem esse tecido e por suas protuberâncias que a autora francesa nos leva a transitar continuamente entre as esferas do coletivo e do individual, do impessoal e do pessoal, numa tentativa de capturar, de preservar algo de permanente nesse rastro de fragmentação (e mesmo de aniquilação) que nos deixam os anos ao longo de seu curso inabalável.

O que faz (se de fato o faz) de uma autobiografia uma obra literária? O que distingue (se de fato há uma tal distinção) a escrita de Ernaux de uma obra autobiográfica convencional? Além da problemática da identidade pessoal, este ensaio também aborda, breve porém consistentemente, a questão mais geral do fazer literário e do lugar ocupado pelo tipo peculiar de autobiografia praticado por Annie Ernaux. Especialmente interessante nesse sentido é a sugestão encampada por Bazzoni de que a estrutura em múltiplas camadas de Os anos soluciona (ou melhor, desarma) um certo paradoxo a respeito da escrita autobiográfica em relação com a busca pelo eu, paradoxo esse que levou muitos autores modernistas a rejeitar a própria viabilidade do projeto autobiográfico.

Leyla Romero

_outras informações

isbn: 978-65-87814-24-7
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 15,5x21cm
páginas: 104 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª

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