_sobre este livro
Até onde o corpo pode ir quando abriga uma mente enclausurada?
Os poemas de “A verdade é que eu fiquei tão tonta que pensei que fosse cair” apontam relações do corpo com objetos: a corda, o poste, o comprimido. Meios de morte transmutados em meios de vida, o suicídio dá lugar ao fetiche, a autoflagelação à dança, a química às palavras.
A condição depressiva é transformada em um espelho: resistência do corpo versus colapso da mente. O que fazer com o invólucro físico quando a autoaniquilação não é uma opção? Como gritar quando a noite infinita não propaga som? Viver a morte dos dias, nascê-los de novo, sublimar solidão com fantasia, pôr-se acompanhada de fantasmas e demônios, semideuses tecnológicos, cavaleiros apocalípticos do consumo.
Deixar-se esvair em espiral, suavemente, às vezes sem jeito, mole como que agonizante, desengonçada, orgasmática… Completamente sem esperança. Um corpo que ninguém vê em meio ao sucesso dos outros, ao interesse dos outros, às intenções dos outros, a tantos outros corpos tão mais completos e gritantes. Um corpo cujo único poder é se manter nas alturas, suspenso, girando. Pendendo. A solidão lá no alto é mais tenra, o ambiente propício a transmutar o movimento feio na palavra bonita. A solidão da mão que busca o sexo, da mão que busca a tecla, da mão que busca o poste. A vitória da mão, único ser vivo no corpo, a mão que apreende o rosto como quem toca os contornos de um boneco de cera, de uma máscara.
Por fim, uma mente que abriga um corpo e não o contrário.
Priscilla Matsumoto