A proclamação da vulgaridade ou quantos furos uma calcinha pode ter?

Disponibilidade: Brasil

vinte e cinco reais cinco quilos de arroz
não dá pra desperdiçar nenhum
grão mesmo que isso signifique não
alimentar outros insetos

R$45,00

_sobre este livro

Tira a calcinha do meio da bunda, termina de arrancar o esmalte, faz um sanduíche com o resto da geladeira e entra aqui. Que o último a chegar não é a mulher do padre. Aqui não tem padre. A proclamação da vulgaridade é uma fé bem cachorra, passando um esfregão no mundo, numa procissão de latidos. Eu leio assim — latindo.

No meio da proclamação, vemos duas mãos. “que sorte: minhas cicatrizes preferidas ficam uma ao lado da outra”. Mão esquerda com a queimadura de cigarro que a avó fez na neta, mão direita com a mordida do cachorro impedido de perseguir uma pizza da dona. Seja lá qual das duas for a mão com que a poeta Mila Teixeira escreve, há um lembrete: perto do destino tem sempre uma bobagem. Um personagem. Uma cena. Um caderninho amarelo caído de uma bolsa, objeto que você não devolve porque quer bisbilhotar.

A proclamação da vulgaridade não é, então, um discurso. Nada disso. A poesia de Mila Teixeira é uma grande risada. Da nossa condição, de todos os diagnósticos. Um corpo fugindo do médico: as doenças que tenho são as que eu imagino que tenho, doutor. Posso inclusive ter alergia a você, doutor. O jogo é bruto: se apaixona pela foto de perfil de um cara sem se esquecer que ver a outra metade do rosto pode ser fatal pra reverter o apaixonamento. Aqui estamos colados à nossa decomposição, à nossa breguice, aos nossos lençóis com elástico frouxo. Batendo no mistério: “não é por acaso/que passo o dia mijando.”.

Como uma calcinha velha acumuladora de furos, vai se adequando perfeitamente à nossa anatomia — e também por isso, eu acho, deve ser queimada. Na vulgaridade, as segundas intenções são para o horário do fantástico, se goza como um bom animal, a casca de banana vai permanecendo no quarto, no poema, a guerra é declarada a um pombo e há a certeza: de que poetas são pobres. Deixando certamente a vontade: de que devemos ser fregueses de Ismália. Comedores do queijo coalho de Ismália. Pelo menos aqui, nesse livro, sob tal presidência.

Está declarada a falta gostosa de poder. A quantidade de mal-entendidos e satisfações desnecessárias são também produções poderosas de vida. E, de todo jeito, terminamos sem descobrir quanto tempo vive uma barata, antes de ser morta por uma escova rosa. Ou o tempo que leva para uma baleia, que desistiu da vida, se decompor.

Maria Isabel Iorio

_outras informações

isbn: 978-65-5900-037-1
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 68 páginas
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2021
edição: 1ª

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