Jozias Benedicto nos fala de um naufrágio, metáfora para momentos de crises, de perdas e decepções. Nada melhor para descrever a derrocada do projeto civilizatório engendrado pelos barões da borracha na cidade de Manaus, que culminou com a construção do Teatro Amazonas, pérola da arquitetura brasileira encravada no meio da selva amazônica. Os poemas de A ópera náufraga são como fragmentos de memórias, folhas de diários boiando nas águas do rio mar. Águas que são o elemento de união entre tantas vidas entrelaçadas: uma cantora de ópera, seu filho, marinheiros e tripulantes do navio compartilham emoções e esperanças nessa viagem transatlântica. Águas que também trazem a lembrança dos seringueiros que deram a vida para tornar possível o sonho de uma Paris tropical.
Jozias costura diversas temporalidades em sua narrativa poética; presente, passado e futuro se conjugam, formando um quebra cabeças de recordações inventadas. Em um jogo de apropriações, o texto faz referência a diversos naufrágios presentes no cinema e literatura do século XX. Assim como os labirintos de igarapés amazônicos, as diversas histórias vão se entrelaçando e conduzindo o leitor a uma jornada nessas águas profundas e misteriosas.
Raul Leal
Artista visual e músico