tenho lido e relido este livro repetidamente
“como una puta presa”
como uma música que se ouve repetidamente
um perfume que repetidamente pedimos na perfumaria:
esguicha mais aqui
porque lembra amor. o amor.
leio e releio e tenho pensado repetidamente
talvez o amor acaba
porque começa
e acaba e então começa de novo
e talvez o amor só exista pra que a gente possa se deitar
numa cama de poemas assim
vermelho-colisão puro sol a pino
que me arde e rasga
um sol vermelho-colisão lá no céu
ou inferno de belchior
e “dos pescadores e da ilha
do amor de camocim”
leio e releio tão plena de amor
e sou essa própria ilha do amor
em tempos tão horrendos
este encarnado é uma bússola
vou lendo e me abrindo como
quem descobre o amor
da primeira vez numa almofada uma sentada
até àquela personalização – tão estrangeira
o amor
me abrindo e me perguntando
“se acaba com o patriarcado lambendo o cu
de todos os homens?”
sim, este livro é um “pega-pega”
e leio e releio este livro cheio de tanto amor, tanto amor
que tenho vontade também de ver esse alguém
com esses óculos, esses cigarros, ouvir um som
pegar a estrada e fazer amor
– sem “o fetiche do segredo”
e não entendo como tem gente que sente ódio
leio e releio sorrindo
querendo amar mais
porque em vermelho-colisão se sabe
“os suores, o que atrapalha o raciocínio”
amar tão bem
e às vezes nem tão bem
porque m. me lembra
“a solidão leva a gente a lugares
muito horríveis pra gente mesma”
mas tudo bem
“con los deseos de una puta presa”
desejo nada esconder no desejo
desejo ler e reler este livro
e que ele se abra mais
e que você aí também se abra
: amor
como se tudo fosse sempre “princípio”
como este livro me principia
sem fim.
nina rizzi