Lugar comum

Disponibilidade: Brasil

nada se resolve
nenhum poema
nem as tentativas de dizê-lo
ou de me desviar
de você

R$45,00

_sobre este livro

algumas vezes é preciso

cruzar a muralha da china

Mariana Paim

 

Para Milton Santos, cada lugar é um mundo inteiro, a partir da perspectiva de que o espaço gera uma tensão de forças que modifica a paisagem natural, cartográfica e psicossocial e dialoga entre si e para fora. Há entrecruzamento, violência, hibridismo e contágio (palavra tão cinzenta nesses dias, mas que na visão de Deleuze e Guattari ganha uma dimensão de possibilidades e resistência). Um lugar também é feito de vazios que se aproximam, se despem e trilham jornadas diversas, como ilhas, como línguas que, um dia nascidas, e com tanto a dizer, hoje são puro deserto:

 

nesse mundo

existem mais de

seis

mil línguas

quantas delas

já morreram e

quantas

possibilidades de

mundo se perderam

com elas

em silêncio

como agora

que sinto

que dentro

de mim

tudo é

ilha

e em você

também

 

Pensando nesses espaços, Lugar comum, de Mariana Paim, sustenta um coral de cifras atravessadas pela ausência e por uma beleza longa e delicada, especialmente erótica, de capturar palavras em pleno voo, de sondar o indizível e de pensar no isolamento que nos impõe o instransponível(?) e um novo e confuso imediato:

 

só tua

voz na tela

arranhando o vermelho

 

Nesses lugares, a poeta também trabalha a reinvenção de distâncias, rememorações, perdas, perpetrações tecnológicas e o próprio ofício de alinhavar palavras. Mas, como atesta o título do volume, é o lugar partilhado, e do amor, sob nuances em trânsito, perto-longe, que impera, reinando-conversando sobre todas as outras, relevantes, pontuações, conferindo a tônica do livro e trespassando o olhar da leitura.

 

Tenho uma noite à minha espera

e nenhum mudo convite

à espera

Espera que

em minha cama [nem branca ou limpa]

teu corpo possa

amanhecer

manhãs

 

No livro aqui tateado, seja nas formas breves, seja em textos mais longos, seja, ainda, em feições que dançam sobre a página, ou por meio das googlagens, há uma voz poética firme e consciente de suas trilhas, que passeia por uma lira cotidiana e por fissuras tênues do corpo, cortinas de silêncio, montando um conjunto de poemas que nos tocam e pedem perene passagem, como um mar, cujas águas sempre molham de encanto nossos pés.

Clarissa Macedo

_outras informações

isbn: 978-65-5900-150-7
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5 cm
páginas: 64 páginas
papel: pólen bold 90g
ano de edição: 2021
edição: 1ª

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