“Pensamentos de criança” é o livro de estreia de Victor Pimentel. Aqui, o leitor encontrará a infância não como um período cronológico distante, como se da infância pudéssemos apenas rememorar. Não: aqui, a infância é o motivo da alegria mais pura, pois surge como o tempo presente e vivo em cada verso. No étimo, in-fans é o lugar da não-fala, onde a língua encontra apenas um balbucio. Inarticulada, não obstante, ali a experiência acha sua relação mais verdadeira com a linguagem: é no silêncio, em suas pausas e na equivocidade das palavras que reside o segredo de todo dizer.
Victor procura pela infância em cada objeto que encontra pelo caminho – é por isto que poderá dizer, ao modo de Manoel de Barros, do olho “que mais parece gente”, “mais parece joia”, “é fruta doce colhida/do pé”. Ou: “tenho apreço/pelo verde”. Tal como São Francisco de Assis, o mais infantil dos santos, a poesia de Victor persegue a voz da natureza (“o mar nos diz todo tipo de coisa” ou “luz é palavra de passarinho”), deixa escapar os sussurros que dirige a ela (“falo baixinho com a areia”). Mas é somente a partir da construção de uma poética da escuta que Victor poderá erigir uma paisagem sonora em que a natureza, há muito proibida de ascender ao lugar da comunicação, conseguirá agora mostrar ao mundo o caminho a seguir.
O flerte que Victor mantém com a poesia visual também é digno de nota. Ao contrário da poesia concreta, que constrói sua versificação a partir do critério da maioridade de suas exigências formais, Victor preenche visualmente o espaço como uma criança: apesar da austera crença de que “o coração é um edifício”, Victor vê em todo lugar um parque de diversões, no qual o brinquedo é a palavra. Há feridas ocasionadas pela queda, claro, mas aqui “o abraço/dobra/o espaço” e “faz surgir/nova estrela”.
Arthur Henrique Martins
_outras informações
isbn: 978-65-87076-44-7
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 74 páginas
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2020
edição: 1ª