_sobre este livro
autoestrada carros e caminhões. entre as pequenas tempestades de areia de um inferno quente e seboso na costa brasileira e os distanciamentos da cidade grande; entre afiamentos de faca, corte de legumes, mãos feridas pelo trabalho e cagadas prontas.
a cada poema penso sobre a crueza literária impregnada em seus versos, que chegam a exalar um cheiro fétido e pútrido, que pesa o ar à volta do leitor, apesar da calmaria que s’expande desde o título do livro. é uma crueza viva e intensa, ao mesmo tempo, mórbida e fecal. o contínuo da matéria, a composição e a decomposição das coisas, da vida, do mundo.
meu coração é silencioso como uma floresta de eucaliptos se manifesta como um passeio no aparelho digestivo, se fundamenta num processo de enunciação tempestuoso e deslumbrante, que se inicia sedutor como o cheiro de cebola e alho no óleo quente, sincero como temperos jogados com precisão de tempo e ritmo.
poesias narrativas dividem espaço com acepções ideológicas e reflexões cotidianas, tendo olhos para a cidade e suas personagens, o emprego e o desemprego, a realidade material das coisas e as relações de trabalho, as relações humanas, as ambientações coletivas, o vício, o medo, a Merda, as vísceras.
as fezes borbulham num caldeirão e as páginas são nele afundadas, fezes cagadas ao longo dos dias, coleções de momentos de Merda, peidos de alegria, arrotos depois do primeiro gole de cerveja. páginas que levam à absorção de conteúdo pelo intestino delgado do processo poético, para depois passear pelo intestino grosso, em que o conteúdo é sintetizado e começa a tomar forma.
sente-se na privada e bem-vindo ao nirvana. Samuel Marrafão Junior