Pele de jabuticaba

Disponibilidade: Brasil

Em maio de 1733, em Vila Rica,
houve a procissão do Triunfo Eucarístico:
o Santíssimo Sacramento foi conduzido
da Igreja do Rosário dos Pretos
para a Matriz de Nossa Senhora do Pilar.

Em maio de 1833, na fazenda Bela Cruz,
na Freguesia de Carrancas, houve o motim
liderado pelos escravos Ventura Mina, Domingos Crioulo
e João Congo, que assassinaram nove moradores.
O massacre abalou a região, o Sudeste, a Regência.

Mas as meninas continuaram a se vestir de anjos.

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_sobre este livro

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“Esta doçura / tem casca preta”, nos alerta Caio Junqueira Maciel num dos poemas deste seu pele de jabuticaba, nono livro publicado pelo autor. A metáfora, síntese da desconstrução poética que o escritor faz do mito brasileiro da democracia racial – que, para escamotear a tensão social e o preconceito, atribuiu ao negro uma suposta candura –, soa como ácida ironia diante do tema que organiza o núcleo dos poemas do livro: a revolta de um grupo de escravos contra seus senhores, ocorrida em 1833 numa fazenda do sul de Minas Gerais, terra natal do poeta.

O fato histórico é ponto de partida para refletir sobre nosso passado comum: “Escutem o galope daqueles cavalos / (e o golpe nas portas daqueles machados) / […] // Relinchos noturnos, obscuros remorsos, / memória estragada, lembranças que mordem”. É também um fluxo interno que, ativando a sensibilidade do poeta, coloca em movimento a engrenagem íntima de seu fazer: “Vem da bica este fluxo da memória, / o curso d’água, simplesmente rego, / que carrego comigo há tantas décadas. // […] tudo é penumbra, / banzos e martírios sem aleluias, / criaturas sem zelo na senzala.”

Como num antigo moinho de pedras, as rodas da memória histórica e da memória individual giram em direções contrárias, e o atrito produz a matéria poética que o autor nos oferece: “O que for resíduo / entra nesta escrita, / engenho, oficina. // Ele é minha tropa / puxando a carroça / do que é memória.” A ferramenta que o escritor maneja com habilidade, no entanto, é a linguagem, e seu artefato, uma poesia potente como o tropel que atravessa a “Cavalgada do insone”, poema de abertura do livro: “entranhas varadas por trôpegas tropas / fazendo das tripas uns trapos que fedem.”

O poeta é um caçador que, com a cadela “chamada ‘Lembrança’”, rastreia o tempo “que foge / que foge.” Não encontrando a presa, seu olhar crítico mira a caça de animais selvagens, prática cruel através da qual o passado também perdura no presente: “A caça é esporte… perguntem à veada” / […] / “perguntem se ela, tremendo de medo, / também se diverte com tanto galope.”

A partir da geografia rural do Sul de Minas, Caio Junqueira Maciel desenha uma cartografia subjetiva, feita de nomes de lugares misteriosos – Bela Cruz, Traituba, Favacho –, e, com sua imaginação poética, nos faz refletir sobre as lacunas, omissões e mentiras que compõem nossa (des)memória coletiva, povoada por fantasmas de cadáveres insepultos que perturbam o sono de todos nós.

Maurício Meirelles

 

_outras informações

isbn: 978-85-7105-135-5
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 78
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2019
edição: 1ª

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