Ferro de espera

Disponibilidade: Brasil

o destino do neto vem pronto:
escola loja administração
até desenrolar por dentro
o novelo invencível do não

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_sobre este livro

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“Rio, 19 de abril de 1995.

Senhorita: desculpe-me pelo sem momento, mas eu precisava sentir muito pelo acontecido. É que as reformas por que a cozinha da língua portuguesa vem passando despertaram em mim estranhos reflexos.”

De Jacarepaguá a Copacabana, os textos percorriam a cidade até bater debaixo de minha porta. Ainda sonhávamos, como a maioria das gentes que não dobrou as décadas. As cartas levavam selos e demoravam, ao menos, dois dias no trajeto.

Dentro de um envelope, vinha o réquiem para o trema que morria; no outro, a mensagem dizia: quem dera ser de Minas Gerais para poder me emocionar ao conhecer o mar, ou viver como a arara azul. “Vive melhor a arara sem seu parceiro do que eu enamorado do mundo inteiro.” O escrito era pretexto, resultado das notícias dos jornais.

Da caixa onde moram hoje os papeis almaço, saltam também, produto da mesma fábrica, poesias forjadas pela pressão dos tipos. “A máquina de escrever, quando reina a falta de assunto, é um maravilhoso brinquedo. Eu, por exemplo, tento desenhar.”

Vinte e cinco anos depois, este Ferro de espera é a poesia crescida de quem sempre soube manejar o real usando a palavra. É a história em versos do tempo suspenso, do momento que virá, do intervalo em que a tecla avança rumo ao papel. Ele fala do segundo que antecede a flor. Flor de concreto, flor de tomada de três pinos, de fêmur, de nylon, de pedra de feijão e de pedra no sapato.

O amor, essa droga malhada, é aqui osso, roupa na máquina de lavar, fantasia de Papai Noel e sangue do filho. A família é toalha de mesa. Nuno constrói beleza sobre lajes, apoiada em vergalhões.

Fico pensando: se lhe dessem mar azul e botão de rosa, de onde viria sua poesia?

Quando fui apresentada a Nuno Virgílio, em 1992, ouvi dos amigos: “Ele soube usar as palavras subterfúgio e flanco na prova.” Convenhamos: quem faz verso em prova é capaz de tirar o leite que a poesia pede às pedras.

Em novembro de 1993, numa carta, aconselhou-me: “Procure os caminhos mais esquecidos pelo resto do mundo. Acho que são eles que levam aos povoados onde o circo ainda faz rir.” E incluiu no PS: “Me pediu que escrevesse, agora atura!”

Aturando há tanto tempo este que é dos melhores escritores que já li, faz-me bem ao coração ver este segundo livro publicado, depois de Eletricaestrela, que, além de ocupar a minha cabeceira, ainda foi semifinalista do Prêmio Oceanos 2018.

Débora Thomé

_outras informações

isbn: 978-65-87076-36-2
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 84 páginas
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2020
edição: 1ª

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