_sobre este livro
Vivemos um contexto histórico e político no qual o silêncio assume conotações nocivas. É cada vez mais urgente estabelecermos diálogos, nos quais argumentos não sejam desmerecidos por uma pretensa rede de informação perversa e manipuladora. O grito contra o fascismo — seu ódio, sua intolerância, sua terrível e profunda malignidade — é, talvez, o único elemento transformador que nos resta. O grito é a literatura, e grandes revoluções subjetivas mantêm-se paralisadas diariamente dentro de cada um de nós.
Existe uma espécie de cacofonia nos poemas, um (des)arranjo poliédrico na própria sintaxe que incomoda pela violência que sugere. A comunicação e suas incontornáveis fissuras são pauta estrutural dos textos deste livro. É um universo de falhas e de repetidas tentativas (o que pode fazer lembrar o projeto de Samuel Beckett), entretanto, toda a história da poesia é uma história de reflexão formal sobre o mundo e sobre a impossibilidade de conciliação entre as partes: a forma, o nosso mundo.
Além de questionar a própria linguagem, os poemas abordam frontalmente a loucura e criam, por meio da radiação dessa ideia, frequências sonoras e rítmicas que experienciam a ausência de limites na lógica do capital. A voz dos poemas apanha de todos os lados e está sozinha.
A linha da razão talvez seja cada uma das linhas que compõem os poemas do livro; formas de decupar a simultaneidade, em ritmo alucinatório, de sons e imagens, em um mundo onde os seres podem voltar a ver, ouvir, dizer, gritar. Ao dizer “uma forma de falar mais das palavras”, Rodrigo Luis tenta aproximar-se de um melhor domínio da comunicação, para um aperfeiçoado domínio da própria subjetividade transviada pelo mundo.
Resta, agora, você, leitor, fazer esse grito entrar em movimento. Rodrigo Luis
Victor Ávila