_sobre este livro
Conheci as Rimas dela na primavera de dois mil e dezessete, ainda antes do nascimento da Vênus, e naquela época os versos já não me pareciam cindidos ao meio, mesmo Marina sendo a poeta concreta concretizada. É verdade que seu eu lírico insistia nas encruzilhadas, nos lados menos claros das estradas, nas brincadeiras arriscadas, nas verdades extravasadas, nas dúvidas, nas tentativas, no amor maiúsculo e, invariavelmente, nos erros. Mas não era possível afastá-lo da mulher-Marina, que era, ao contrário, uma força que só avançava, domando de imediato cada ambiente em que adentrava, preenchendo cada pessoa que conhecia, como é certo que continua a fazer, sempre esvaziada de medos.
De volta à estaca zero, re(pensada/imaginada/visitada), as palavras dela também carregam e transmitem esse poder que Marina encerra em si. Porque se o amor se esconde na neblina fina entre a areia e o mar, não é esse o lugar que a poesia da vênus-construída agora habita. Certa de todos os passos que deu depois de sair da concha marinha e se lançar à vida, ela é capaz se reconhecer que seu mundo é dentro de casa, que só se vive dentro de si. E é partindo desse porto que os seus poemas deste novo livro vão promover o exercício de fazer com que os leitores viajem, mesmo que à deriva.
Se antes víamos mosaicos construídos a partir de vazios, navios, telas em branco, solidão, cartas jamais recebidas ou enviadas, saudades e dores, hoje os seus espaços são inundados por uma chuva melancólica e inesperada que se intercala, página após página, com um sol de nostalgia boa, com os jogos, com os brinquedos das crianças descalças no parquinho, com a voz de alguém que canta amores do passado e do futuro enquanto constrói sua própria fortaleza, cria seus próprios territórios e demarca os seus próprios limites, apesar dos desvios de percurso.
Aceitar comprar o bilhete para essa viagem é ter a chance de poder olhar Marina por dentro dos olhos, de enxergar aquilo que se abriga sob sua pele, de ver o que há entre os espaços de uma e outra estrofe, de ouvir os ecos de outros poetas na sua voz, de assimilar tudo aquilo que nos cerca sem grandiosidade: depois, todas as outras viagens parecem impossíveis.
Gabriela Antonia Rosa