vai, que a tua lembrança é feita de areias
arrastadas pela maré alta a cada poente,
com teus olhos abertos e frios
tua boca seca e teu corpo resignado.
segue com o mar para o fundo das coisas
onde nenhum choro é ouvido
o peito não arfa
as mãos não se tocam
e os olhos dos homens não chegam.
afunda coberto de sal
em silêncio e dúvidas
preso em grades invisíveis
menino com armadura de homem
fílmico personagem de lata.
R$35,00
_sobre este livro
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Ela escreve assim, como quem não toma fôlego, para ser lida/acolhida sem que uma pausa se faça. Acolhê-la não é fácil, há que se tirar as máscaras, abraçar o espinho, mover entulhos, pudores, pruridos. E ela não se faz de rogada, não convida, não faz mesuras, apenas nos empurra de cabeça no vórtice de um turbilhão de palavras, atordoante, alucinado. O receio de se asfixiar se esvai quando nos damos conta de que asfixiados todos nós estamos — é em seu próprio vórtice que ela nos faz novamente respirar. Assim a seguimos, qual bêbados em campo minado. Nada é lapidado, tudo é eviscerado: no dicionário dela, lapidar é eviscerar. Fragmentos de histórias que ela nos deixa entrever se compõem e decompõem a cada poema/petardo/obus, tecendo ressonâncias que se vão tatuando na memória de quem as lê. “Ausência é o prato que me resta”, diz ela, que a certa altura avisa: “qualquer bicho que morda meus calcanhares / vale mais que ter um pensamento preso por algemas”.
A mulher-centauro lança suas flechas. Algumas vão voltar, e ela sabe disso.
Elisabeth Priestley
_outras informações
livro finalista do Prêmio Guarulhos 2018
isbn: 978-85-69433-46-0
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5 cm
páginas: 88
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2017
ano copyright: 2017
edição: 1