Delirium telúrico tremens é a obra mais íntima do autor, embora se categorize como autoficção, uma mescla de fantasia e realidade que deve ser apreciada sob essa perspectiva. Redigida durante um período de isolamento em uma propriedade rural no sul do Brasil, onde o escritor se dedicou à agricultura e à escrita, a novela retrata a transição de uma vida urbana agitada para a solidão do campo. Inicialmente, o narrador se sente fascinado e encantado pela nova realidade simples e austera que o cerca: neblinas, cerrações, pinheiros, montanhas, solidão, bucolismo, aprendizado e, sobretudo, uma reconexão com a natureza, que se torna seu principal objetivo ao buscar um novo significado para a vida.
Entretanto, esse sonho idílico se transforma em um pesadelo angustiante à medida que seus planos e aspirações desmoronam, levando-o a enfrentar novamente seus antigos vícios, como o alcoolismo e a luxúria. Para complicar ainda mais sua situação, ele se apaixona por uma camponesa local, envolvendo-se em um relacionamento intenso que o desestabiliza emocionalmente. Buscando aliviar seu sofrimento com o corpo da jovem aldeã — representação simbólica da terra fecunda e selvagem — sente-se novamente sozinho e atormentado quando ela o abandona, privando-o dos prazeres de sua companhia.
A partir desse ponto, sua deterioração moral e psíquica se intensifica, culminando em um estado de loucura aterrorizante, onde ele se vê submerso nos efeitos alucinatórios do álcool e do isolamento. Misturando realidade e ficção, o texto captura sons, texturas, devaneios e delírios. Em essência, a narrativa se desdobra em uma história de névoas, florestas, isolamento, relacionamento tumultuado, êxtase, desatino, mas, acima de tudo, de autodescoberta, revelando uma personalidade aterrorizada e confusa.