O tempo passa. Já não há carros na rua. As luzes somem sem que a insônia as perceba. Do jardim escapa o cri cri cri das cigarras. Rivaliza com o ronco do marido. Em algum momento, até as cigarras param. O ronco, este, continuará noite adentro.
Como uma jiboia, arrasta o rabo nos lençóis, desce, enrola-se no criado-mudo. Ocupa cada canto do quarto. Nada pode com ele. Melhor esperar o dia. Luzes, cigarras, roncos, nada disso existiria. Toda a chateação passaria, não fossem as palavras. Lindaura quase escutava, antes e depois dos grilos, dos roncos e das luzes, a todo momento.
“João Cajueiro voltou”.
Apenas o tempo da distração e vinha, de novo, a frase doida.
Mas afinal, como é que volta um defunto?