O homem sem sombra

Disponibilidade: Brasil

O tempo passa. Já não há carros na rua. As luzes somem sem que a insônia as perceba. Do jardim escapa o cri cri cri das cigarras. Rivaliza com o ronco do marido. Em algum momento, até as cigarras param. O ronco, este, continuará noite adentro.
Como uma jiboia, arrasta o rabo nos lençóis, desce, enrola-se no criado-mudo. Ocupa cada canto do quarto. Nada pode com ele. Melhor esperar o dia. Luzes, cigarras, roncos, nada disso existiria. Toda a chateação passaria, não fossem as palavras. Lindaura quase escutava, antes e depois dos grilos, dos roncos e das luzes, a todo momento.
“João Cajueiro voltou”.
Apenas o tempo da distração e vinha, de novo, a frase doida.
Mas afinal, como é que volta um defunto?

R$54,90

_sobre este livro

A linguagem nômade de Corisco Moura

 

A imaginação de ficcionista do escritor brasileiro Corisco Moura tem uma navegação nômade. O homem sem sombra desembarca com suas criaturas (que se volatilizam) nestas águas (que flutuam) muito ao sabor do vento. A ficção de Corisco namora a crônica, a poesia, o senso romanesco, o rigor formal em algum momento, o desabusado desarrumado em outros. Sua sintaxe e suas figuras linguísticas fazem variações onde o leitor tem de estar preparado para uma viagem entre cenários e palavras que tanto se aproximam quanto se afastam. É como se estivéssemos em uma vila estranha e incógnita da qual precisamos retirar as cortinas no pórtico.

“Os dias nasciam e morriam. Pessoas conversavam, arrastavam-se à procura de qualquer coisa. Esse barulho chegara aos seus ouvidos. João, porém, não escutava. Dormia um sono de eras. De dia ou de noite, as pálpebras, sempre fechadas, esperavam um milagre.”

Como João Cajueiro, o leitor é um estranho redivivo na vila criada pela imaginação de Corisco a partir de seus dados de realidade.

Autor de uma obra literária ainda incipiente, com a novela inicial A última aldeia (2017) e dois romances, Dois levados numa jangada (2022) e A correnteza (2023), este talvez seu livro mais bem acabado, pode-se dizer que com O homem sem sombra Corisco faz o que, a certa altura se diz no texto, se põe como uma caracterização da oscilação de consciência — desde sua linguagem flutuante, em busca dos abismos do homem sem sombra.

Eron Duarte Fagundes

_outras informações

isbn: 978-65-5900-867-4
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x22 cm
páginas: 180 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2025
edição: 1ª

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