Corro duplo risco ao recomendar este livro. O primeiro é de ele eventualmente desagradar quem o ler e eu ser acusada de promovê-lo apenas por corujice de mãe; esse é um risco menor. O segundo e grande risco é que este é um livro sobre mães, dedicado a esta mãe que vos escreve e eu nem sequer imagino o que a autora escreveu sobre mim e essa categoria na qual fui/sou uma participante bem atrapalhada, que jamais avançou do estágio de amadora.
Sim, eu admiro muito a filha escritora de cuja formação participei ativamente. Além de escritora ela foi e ainda é uma leitora voraz e creio ser essa a principal característica das grandes escritoras e escritores, a paixão pela palavra bem trabalhada, burilada ao ponto de brinquedo, como diria Manoel de Barros. Bia é isso, uma artesã que põe nadadeiras e asas nas palavras, afrontando a gramática que eu teimo em corrigir em seus escritos.
Não, eu não li este livro. Bia não me deixou lê-lo antes de estar publicado, mesmo assim eu o recomendo. Porque sou uma mãe orgulhosa e encegueirada por tudo que a filha faz? Certamente não. Sou uma mãe chata, exigente e crítica, que diz na lata quando não gosta. Mas Bia é uma escritora experiente já com 6 livros solo, numerosos capítulos de livros e de revistas publicados. Gosto do que ela escreve, especialmente na categoria contos, mas já me emocionei com suas poesias, admirei seus longos primeiros romances, estarreci com seu poder de síntese, com a profundidade de seus pensamentos, com seu poder de fazer conexões, de deixar fios soltos e com eles tecer lindas imagens.
Estou mãe há mais de 26 anos (aí incluídos os idílicos meses da gravidez) e desde lá sei que tudo nessa experiência é risco, porque sempre se está a estrear nas diferentes situações que a maternidade interpela. Arriscar, portanto, não será nenhuma novidade para quem, lá atrás, se lançou a esse desafio que, como diz Mario Prata, é bom, mas dura muito. Recomendo!
Silvia Chaves