Eu me sentei no chão da sala, em cima de um tapete peludo. Estava encostada no sofá para assistir à televisão e
vi o sapato quadrado de napa amassando o tapete, uma brisa vinda da barra da calça vincada, o cheiro de talco amargo se aproximando. Ele sem pedir licença sentou-se no sofá, colocou uma perna de cada lado e me deixou no meio delas. Fiquei encaixada ali, presa.
Novamente suas mãos começaram a massagear os meus peitos de menina, por cima da minha cacharréu cor de ocre. Eu senti meu corpo amolecer, fiquei prestando atenção no ritmo das suas mãos, percebi meu corpo ficando quente, não conseguia me mexer, nem queria. Nunca mais esqueci do calor das suas mãos.
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_sobre este livro
As notas de Anita — ou melhor, de Branca Lescher — me visitaram à noite, já perto do sono. De modo que não pude mais dormir. Foi necessário conhecer Anita até o fim: devorá-la.
Anita é uma narradora encantadora de serpentes. Tão sacana quanto as personagens com que se encontra. No entanto, nada em Anita me soa mesquinho. Sacaneia para dar uma rasteira na sacanagem; se defende como pode. Sem um pingo de hipocrisia ou autocomiseração. Uma filha proscrita de Alice Munro com Philip Roth, que vive dentro da própria cabeça ao mesmo tempo, em que sabe ser corpo, em que sabe ser pele. Em Anita, tudo é espontâneo e pensado: vive solta, mas parece ter vivido para poder contar, o que fica claro no capítulo sobre a morte do ginecologista e confidente. Afinal, o que pode restar de um narrador sem falsos pudores, (auto)irônico e arguto, sem a presença de um ouvinte à sua altura?
Mas o caso é que Anita não é feita só de alfinetadas. Com suas agulhas, também soube bordar sobre si um manto de memórias finas. No trecho em que ela revisita sua coleção de objetos — a matéria viva do que restou —, Anita dialoga com a memória dos pais e de tudo que, tendo se dissipado, serviu para parir uma nova Anita, lúcida e — por que não dizer? — ainda mais livre.
Do vivido, contudo, parece ter sido guardada uma voz severa, direta, cortante, em que não se medeiam os subterfúgios. E foi conservada com o propósito de urdir a linguagem deste relato em primeira pessoa, na certeza de que o único pecadilho de Anita foi — e continua a ser — a inescapável franqueza consigo mesma, numa absoluta impossibilidade de refrear o desejo. Como disse Geni Nuñez, não há que se pedir perdão quando nunca se concordou com a noção de pecado.
Paula Novais Ferreira
_outras informações
isbn: 978-65-5900-865-0
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x22 cm
páginas: 128 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª