Transpirar anzóis em vastos desertos

Disponibilidade: Brasil

Ao misturar ficção e fragmentos autobiográficos em seu primeiro texto em prosa, marcado também pela influência do pensamento pós-colonial na literatura, a autora de Transpirar anzóis em vastos desertos, uma mulher lésbica e professora, faz um convite imersivo à vida e intimidade de personagens dissidentes que, além de rasurarem a norma, encontram no amor entre iguais o apoio necessário para afastar a lâmina que parece ferir todas as manhãs. Resvalando em temas como infância, sexualidade, pobreza, educação e ruptura, é dada ao leitor a possibilidade, através da alternância de vozes narrativas e de um lirismo decantado, de conhecer o jovem Antônio e sua “mãe por escolha”, bem como o que liga um ao outro.

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_sobre este livro

Todas as histórias já foram mesmo contadas? Essa pergunta-questionamento presente em um dos textos de O mundo desdobrável, de Carola Saavedra, acompanhou boa parte do meu movimento de leitura por entre as páginas deste Transpirar anzóis em vastos desertos, primeira publicação em prosa da escritora Maria Clara Aquino. Escolho começar com essa questão porque acredito que ela aponta para alguns dos motivos que fizeram com que esse livro me atravessasse profundamente e eles dizem respeito tanto à escolha da matéria narrativa quanto à maneira como ela é cerzida.

Um livro que nos aproxima de personagens com vivências de gênero e sexualidade imersas na complexidade de estarem situadas socialmente à margem em um contexto interiorano, com as quais refletimos sobre as diversas violências, visíveis ou não, que ferem feito lâmina as nossas existências e também sobre os respiros possíveis, como o afeto e a identificação que amparam e oferecem oportunidades para vislumbrarmos outras formas de viver e estar junto. A narrativa ainda toca em temas como a desigualdade social, o desemparo, as perdas e a morte, mas também celebra a alegria dos encontros e a preservação da memória das pessoas que amamos.

Mesclando diferentes modos de narrar e vozes narrativas, passando pelo formato epistolar, pelo fluxo de pensamento, ao mesmo tempo em que explora ou esgarça os limites entre ficção e biografia, Transpirar anzóis em vastos desertos é escrito com uma linguagem poética através da qual são construídas belas imagens que por vezes sobrepõem temporalidades, sentimentos e lugares, afinal é sempre ontem, esse tempo anzol. Habitado não só por mim, por você ou pelos peixes, mas por todos os camelos. Há tudo de mar no deserto e tudo de deserto no mar que não se diz.

Nele, mar e deserto, afeto e raiva podem ser moldura e reflexo de um mesmo espelho, não como algo que seja equivalente entre si, mas como lugares onde novos movimentos podem ser inventados, seja através do gesto da fuga, dos laços de afeto que podem ser tramados e cultivados ou daquilo que pode ser feito e dito apesar do silenciamento e das violências da norma e como podemos então desde aí reinscrever com/entre essas palavras a nossa própria história. Talvez seja precisamente por isso que ainda montamos nos lombos dos camelos e transpiramos anzóis, meu querido, para que cedo não morramos.

Mariana Paim

_outras informações

isbn: 978-65-5900-864-3
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x19 cm
páginas: 64 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª

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