Flor do vento

Disponibilidade: Brasil

descobrir um corpo novo
absurdada
como quem descobre pela primeira vez a aparência de
uma fatia de fruta observada por microscopia
um achado não diria pequeno eu diria do tamanho
perfeitamente inconveniente
um susto
tudo fractalmente multicolorido
as tais concomitâncias
tudo pode ser ao mesmo tempo fruta ou caleidoscópio
o desejo habita lugares desconhecidos
as pintas pelos manchas cicatrizes
tudo está onde sempre esteve
mas ainda não se sabe onde é isso

R$50,00

_sobre este livro

Flor do Vento confronta diretamente algo que me parece ser uma das tarefas milenares da poesia: processar um luto; retirar, do fim, um início. Morre alguma coisa, outras ganham vida, Luisa me conta. Acho que todos nós já experimentamos o que isso significa: entre o morrer e o nascer das coisas, há algo de sinuoso e desviante, que alonga o tempo da experiência. E dói. E é devagar. Sim, mas o que acontece, então, quando o morrer de algo, como um amor, e o nascer de outro se sobrepõem? Devagar também é pressa, Luisa responde.

Os quarenta poemas que compõem este livro são estruturados sob esse duplo signo: um tempo que corre e escorre entre os dedos, e um tempo suspenso. E, nessa dinâmica, quantos fins e inícios podem ser comportados?

Luisa se propõe, como uma espécie de arqueóloga, a escavar a superfície das coisas em busca constante dos términos e recomeços. E ela encontra-os, bem escondidos, sob tatuagens, sobre pintas, em constelações, dentro de canecas de café, atravessando blocos de Carnaval. É no momento desse encontro que o tempo se suspende. Só que, imediatamente depois do encontro, o tempo acelera, e algo, novamente, se perde. Então ela retoma a busca, repete o mesmo movimento. E repete. E repete. Até que, como diz a epígrafe que abre este livro, tudo fique diferente.

Alguém poderia, portanto, dizer que este é um livro sobre a busca pelo amor em amores perdidos, amores descobertos, amores breves, amores de outras vidas, amores pra vida inteira. E talvez seja. Mas, para mim, há algo bem maior que isso. Flor do Vento é sobre coragem.

Atravessar esse percurso ao lado da autora é pegar emprestado dela essa coragem. E é necessária muita coragem para fazer a operação que estes poemas fazem: dar vida à morte; crer de forma indelével na sobrevivência do amor, ainda que sob a sombra da perda; descobrir que o fim é sempre um não e, ainda assim, retirar desse não tantas possibilidades de sim. E só com a coragem que este livro te ensina que se torna possível ir em busca de tanta coisa; que se torna possível vasculhar mapas incoerentes, até encontrar um sítio onde fim e início se anulam e onde, enfim, se torna possível que algo viva para sempre.

Beatriz Malcher

_outras informações

isbn: 978-65-5900-827-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14x19,5 cm
páginas: 84 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª

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