Notas suicidas

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… Quanto a pedir esmolas, é mais seguro pedir do que tomar, mas é bem mais digno tomar do que pedir. Não: um homem pobre que seja ingrato, perdulário, insatisfeito e rebelde possui decerto uma personalidade plena e verdadeira. Foi Oscar Wilde que me tornou ladrão. Não o Armando. Eu precisava apenas de um meio, algo para colocar em prática. De certo modo, eu já era um criminoso. Meu pai me disse, certa vez, que a maior riqueza de um homem é ter seu nome limpo. Não me lembro de ter comprado nada só com meu nome, meu sobrenome, ou meu sorriso.

Relato do paciente
Francisco Eriberto

R$60,00

_sobre este livro

Desde a primeira leitura da prosa de William Eloi​, através dos livros de contos A vertigem seguida da náusea e A calçada, percebi que ali se encontrava​ um escritor superlativo, que leva seu ofício a sério, como diria Hemingway. Neste romance, as qualidades literárias do autor subiram de patamar e ele entrega uma obra complexa, visceral e instigante. E também perturbadora.

Através do prólogo, um depoimento de um psiquiatra que recebe um manuscrito, recurso engenhoso usado na literatura francesa do século XIX, somos apresentados a Francisco Eriberto, que em primeira pessoa narra de forma alucinada sua vida em meio a um casamento frio, um emprego burocrático e ocasionais saídas com amigos e colegas de trabalho.

Porém o aparente marasmo é só uma casca, pois tanto a alma como a própria vida de Eriberto estão repletas de amargura, traumas e propensão à autodestruição e suicídio (como o próprio título do romance nos dá o spoiler), o que leva nosso anti-herói a uma jornada joyceana, cheia de sexo, farras, traições, drogas e álcool, em uma Natal decadente e hostil.

Eriberto desce, como Orfeu, ao inferno da cidade e de seus (des)encantos e também ao Hades de sua própria alma, relembrando feridas emocionais não cicatrizadas, como um abuso que sofreu na infância, a morte dolorosa do seu cão (quando constatou que Deus não existe), as primeiras (e desastradas) experiências sexuais, o relacionamento difícil com o pai e o irmão. Enfim, um prato cheio para Freud, Jung, Lacan e Foucault.

Mas aqui não se trata de psicanálise, e sim de — excelente — literatura. É através dela que William Eloi se faz impor com seu protagonista e que nos convida a descer aos infernos com ele. E em meio a tanta dor, solidão e hedonismo, fica claro que — para autor e personagem — a literatura, como investigação profunda de um mundo complexo, e também como ferramenta para autodescoberta, pode ser salvação e redenção.

Cefas Carvalho

Jornalista e escritor

_outras informações

isbn: 978-65-5900-805-6
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 13x19 cm
páginas: 224 páginas
papel polén 90g
ano de edição: 2024
edição: 1ª

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