Abriu os olhos sem realmente tê-los aberto. Era peculiar a sensação de enxergar, sem que aquela luz viesse lhe machucar a retina. Abriu os olhos, assim, já em pé, como se ali mesmo houvesse se materializado, parado naquele gramado, próximo à sombra de uma árvore frutífera, cujos frutos não podia reconhecer.
Abriu os olhos e viu um sol a meio termo, um sol-quatro-da-tarde, que aquecia a pele sem queimar, que iluminava sem ofuscar a vista, que alegrava os corações mais melancólicos. A cor daquele céu parecia uma canção do Bob Dylan. E viu o rio que corria manso, refletindo esse sol benevolente, como fizesse um poema otimista sobre o amor. De frente para o rio, separada por uns vinte metros, uma casa simples de alvenaria, com uma chaminé que espalhava uma tímida fumaça branca. Um banco de madeira, à frente da casa, dava aconchego a um violão com cordas de nylon. Próximos ao calmo rio, dentes-de-leão tremulavam levemente ante a confortável brisa passageira. Suas sementes pairavam pelo ar, viajando em busca de outras paragens. No rio, ao longe, via uma figura indistinguível, mas certamente era humana. Não sabia se estava em pé na outra margem do rio ou nas próprias águas. Pela janela da casa, via um rosto conhecido, um rosto feminino. Era Suzanne.
(Alucinação, página 31)
10% de desconto
PRÉ-VENDA ATÉ 25/11/2024.
Os livros serão enviados em até 15 dias após o fim da pré-venda